terça-feira, novembro 28, 2006

Nizâmî - Laylí e Majnún (2)

Enquanto todos os seus amigos em seus livros afanavam,
Eles provavam outros modos de se instruir.
Aprendiam a gramática do amor um nos olhos do outro,
E os olhares eram para eles as notas que sacavam.
Pelo feitiço do amor se livravam da ortografia.
Eles praticavam escrevendo letras cheias de carícias.
Os demais aprendiam a contar; enquanto eles dizer podiam
Que não há nada que conte à excepção da ternura.

Nizâmî (1140/6-1203/9).
Trad. por Sam, a partir do espanhol de
Jordi Quingles i Fontcubierta (1991).

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sexta-feira, novembro 17, 2006

Dowland - A escolha...

Melhor mil vidas morrer
Que viver assim atormentado
Querida, lembra-te que o meu ser
Por tua causa morreu rejubilado.

John Dowland (1563-1626) in
"The Earl of Essex Galliard" -
First Booke of Songes (1597)
Trad. por Sam.

Cantado por Sting in Songs from the Labyrinth, a música de Dowland é dissonantes mas também envolvente. As dez canções presentes nesta recompilação provam-nos que o compositor era detentor duma personalidade singular que questionava, à boa maneira do seu tempo, a vida e a morte. Numa das canções -- Wilt thou unkind thus reave me -- demonstra a jubilosa melancolia de quem é capaz de ver para além do sofrimento dum amor não correspondido; pois amor tão intenso é aquele que permite maior facilidade em se afastar para, como Majnún ou Romeu, buscar a sua Laylí ou Julieta na morte: "a vida irá morrer, a morte manter-se-á viva para te amar", afirma o poeta-cantor.

Nesta condição de lutador, vivo pela morte, Dowland recebeu o título de Orfeu inglês, o personagem mitológico que regressa do mundo dos mortos. É ele o homem que, não merecendo (talvez como ninguém o mereça) o título de maníaco-depressivo, soube ver alegria e tristezas na vida, aprendendo a dar ao mundo e a receber do mundo, para depois poder transformar o sofrimento nalguma realidade com sentido (parafraseando o psiquiatra austríaco Frankl).

Numa das minhas músicas favoritas do álbum Come again, as aliterações e as redundâncias fazem da lírica e da música a mais jubilosa de todas, permitindo ao ouvinte (sabendo ou não inglês) sorrir mediante a descrição da dor, pois o autor sabe que enquanto sofre está perante a amada, a maior fonte de prazer ao seu coração, a bela jóia da sua existência.

Conforme explicou Frankl (1977), esta é a característica dos que reconheceram o seu papel no progresso humano, ao afirmar que "somente a atitude e a volição permitem-lhe dar testemunho de algo do qual só o homem é capaz: de transformar e remodelar o sofrimento a nível humano para converte-lo num serviço". É o que o próprio Sting diz: a música de Dowland vai "nos lembrando que apesar de poder haver tragédia na vida, a vida em si não é trágica".

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quarta-feira, novembro 08, 2006

'Abdu'l-Bahá - Professor: procura-se

Alguns dos homens sagazes declaram: Nós chegamos ao grau superlativo de conhecimento; penetramos o laboratório da natureza, estudando ciências e artes; atingimos a mais elevada condição de conhecimento do mundo humano; investigamos os fatos como eles são e chegamos à conclusão de que nada é razoavelmente aceitável exceto aquilo que é tangível, sendo esta a única realidade digna de crédito; tudo que não seja tangível é imaginação e tolice."
É realmente estranho que após vinte anos sendo instruído em colégios e universidades o homem possa chegar a uma condição em que ele nega a existência do ideal ou daquilo que não é perceptível aos sentidos. Já parastes para pensar que o animal já se graduou em tal universidade? Já percebestes que a vaca já é mestra emérita dessa universidade? Pois a vaca, sem trabalho e estudo árduos, já é uma filósofa de grau superlativo na escola da natureza. A vaca nega tudo que não é tangível, dizendo: “Eu posso ver! Eu posso comer! Por isso, eu só acredito naquilo que é tangível!"
Então por que vamos a colégios? Vamos até a vaca.
'Abdu'l-Bahá (1844-1921) in
A Promulgação da Paz Mundial
Trad. por Bijan Ardjomand (2005).
Nota: Depois de 20 anos de estudos (nem mais nem menos), hoje
introduzi a última palavra na minha dissertação final de
mestrado
e amanhã é a minha última aula no Master da Universidad de Sevilla.
Obrigado a todos os companheiros de jornada que me permitiram ver para além das vacas!

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