quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Finalmente vi!

A Teia de Carlota, aquela obra-prima dos desenhos animados da década de setenta que o Brasil exibia, sacralmente, duas vezes por ano... Finalmente vi o filme que, desde os meus cinco anos de existência, queria ver!

Ainda lembro de ter descoberto aquela aranha antes de conhecer o SpiderMan (outro ícone aracnídeo). Aranha pequena, insignificante e, talvez até, nojenta aos olhos de muitos. Uma aranha que simbolizava aquilo que tememos nos outros, aquelas aparências que nos assustam e com as quais evitamos contacto só por nos acharmos superiores…

Aquele cavalo que relinchava ao mirar aquela aranha que lhe parecia asquerosa, aquelas ovelhas que não a queriam conhecer e aquele ganso que nem sabia o que dizia…

Se não fosse o pequeno Wilbur, com toda a sua inocência de criança que não sabe das “regras” que os adultos estipulam, que não diferencia o social do real, o correcto normativo com o correcto emotivo.

Wilbur era um porco (ou um leitão?) que, cedo ou tarde, seria comido se não fosse o esforço unido dos vários animais do celeiro. Wilbur é a alma infantil que é vociferantemente devorada pela adultez seca que nos rodeia na sociedade. Wilbur é aquela essência perdida que só encontramos se nos unirmos e agirmos em prol de algo.

As vacas imóveis que não se moviam por nada porque ainda tenho três estômagos vazios, pensando em si mesmas ao invés de pensarem nos demais. As ovelhas que só sabiam imitar e fazer o que um líder fazia. O rato que coleccionava a tudo e não assumia responsabilidades. O ganso que abria a boca sem se dar conta que estaria a magoar àqueles que mais amava. A gansa, sábia que apressava em corrigir, em palavras, as asneiras dos demais sem tampouco se dignar a agir muito, pois a sua família era a prioridade. Esse é o retrato da nossa sociedade: cavalos que só olham para as aparências, um conjunto de ovelhas seguidistas, uns ratos covardes e ingratos, uns gansos que falam sem pensar, umas vacas que pensam em si mesmas, e umas gansas que pensam na sua família.

Até que nos surjam na vida uns porcos lamacentos com a pureza interior e umas aranhas, pequenas, simples, modestas e sábias, capazes de converter as cinzas do desespero em fogo heróico, capazes de unir um conjunto de seres que só viviam juntos e transformá-los em amigos, camaradas, unidos por um bem comum, unidos com um objectivo comum, capazes de lutar, determinados e incansáveis, onde nem a morte os poderia separar.

Apesar de ser um desenho animado que vi pela primeira vez há décadas, apesar ser baseado num livro para crianças, de ser uma película para pequenos humanos a partir dos quatro anos de vida, a Teia de Carlota é uma lição de amizade, uma lição de vida e, acima de tudo, uma lição verdadeira de amor verdadeiro.

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quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Chegar a Roma, passar por ela, pensar nela...

Chegando a Roma e passando por ela, a vida de qualquer ser humano pode mudar. Havendo estado anteriormente em Itália, no Norte, choco-me com a diferença e a beleza que Roma ostenta orgulhosamente.

E não me refiro ao orgulho de ser bela, mas àquele orgulho que pode levar uma civilização a um declínio tal que se converte numa das caudas do mundo. Atentemos à história: o que aconteceu à Macedónia de Alexandre (o Grande!!!)?, onde está a Mongólia de Gengis Khan?, onde se perdeu o Egipto de Ramsés?, em que situação atroz se encontra a Pérsia de Cyro, de Xerxes e de Dário?

A arrogância dos senhores do poder leva sempre a uma queda, cuja consequência é a dificuldade em se erguer. Diz-se, na física, que tudo o que sobe tem que descer. Devo discordar! Podemos subir e progredir, piano a piano, podemos andar, caminhar e correr até, e ir lontano. Mas não precisamos de nos considerar os detentores do saber divino e absoluto!

A extrema organização de Milão e o extremo caos de Roma…

A monotonia taciturna da cidade da moda versus a vida rejubilante da capital do Império…

Em Roma, as pessoas são capazes de amar e odiar em simultâneo. Se pisam (literalmente) para entrar num bus, se ofendem para demonstrar raiva, troçam do desconhecido ao mesmo tempo que apreciam o diferente.

A Roma do Império é hoje a Roma perdida, a Roma à busca de si stessa, procurando o seu lugar no mundo. Flutuante entre esquerdas e direitas como quase todas as capitais europeias, Roma simboliza a civilização mundial que não concebe as suas origens num passado que mescla culturas (quanto do cristianismo apostólico romano, por exemplo, não é resultado do zoroastrianismo mitraico?), que se perde num presente de altos diplomatas e sábios ao mesmo tempo que se rebaixa ao papel de cauda europeia, que luta por regressar a ser quem era sem saber quem é…

ROMA, anagrama clarividente de AMOR! ROMA, cidade da Cristandade. ROMA, leito da velha ordem.Quando te despertarás e lutarás por ser a Cidade que outrora fostes?

A cidade que pode sustentar uma ponte a caminho da nova ordem, onde as dicotomias mundanas entre nacionais e estrangeiros, entre independistas nortenhos e nacionalistas sulinos, entre a pobreza e a riqueza, entre o exclusivismo religioso e o ânimo de integração se anulam e os teus cidadãos se converterão nos arautos da nova ordem mundial?


Quando a tua paúra se converterá na força de agir?
Que Sejam atos, e não palavras, vosso adorno, ó doce e saudosa Roma!

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