domingo, junho 11, 2006

Farídu’d-Din ‘Attár - A Conferência dos Pássaros

Numa noite, uma multidão alvoroçada
De mariposas estava aglomerada
Para a verdade ser aprendida
Acerca da luz que por velas é emitida,
E a uma delas decidiram mandar
Para juntar informações acerca do brilho singular.
Uma voou até a uma distância para discernir a janela
De um palácio no qual se queimava uma vela –
E ainda mais se aproximou; de volta voava
Para dizer aos outros o que achava.
O mentor das mariposas dispensou a sua declaração,
Dizendo: “Nada sabe ele da combustão”.
Uma mariposa que, comparando à anterior, era mais arrojada
Partiu para o palácio e passou para além de sua entrada.
Flutuou com desejo temeroso pelo éter,
À volta da aura do fogo azul e a tremer,
Então foi de volta para dizer quão longe havia ido
E quanto havia visto e o que havia acontecido.
O mentor disse: “Não possuis os sinais
De alguém que sobre o brilho das velas saiba mais”.
Outra mariposa partiu – seu voo estonteante
Tornou-se num cortejar da luz radiante;
Mergulhando e alto voando em seu transe agitado
Ego e fogo, pela dança, como um foi mesclado –
As asas, o corpo e a cabeça engolidas pela chama;
E seu ser brilhava num terrível translúcido cor-de-flama;
E quando o mentor viu o súbito ardor
As mariposas viram nos brilhantes raios a perda e a dor,
Ele disse: “Ele sabe, ele sabe a verdade que procuramos,
Aquela verdade oculta da qual não falamos”.
Ir para além de todo o conhecimento presente
É encontrar a compreensão que evita qualquer mente,
E não podem um objetivo há muito ansiado conseguir
Sem antes ao corpo e à alma unir;
Mas basta restar uma parte, para te puxar
Um cabelo e ao desespero te lançar –
Não se aceita o ego de criatura alguma
Onde se quer que toda identidade suma.
Farídu’d-Din ‘Attár (1117-1230).
Trad. por Sam, a partir do inglês de
Afkhan Darbandi e Dick Davis (1984) de
Mantiqu’t-Tayr (A Conferência dos Pássaros) .

Etiquetas: , , ,

13 Comentários:

Blogger Neptuna disse...

Parabéns pela iniciativa da criação do blog. Obrigado pela partilha deste texto.. ficarei atenta a novos desenvolvimentos. Continuação de um bom trabalho!
Beijinhos

11 junho, 2006 15:46  
Anonymous Anónimo disse...

Ainda que saiba que o galego foi matriz do portugués, a traducción é dificil. Pódese comparar e atopar diferencias. Unha aperta

A conferencia dos paxaros

Unha noite, unha multidude alborozada

de bolboretas chea

agardaba para aprender a verdade

tocante á luz por candeas emitida..

A unha delas mandaron

para achegar novas

verbo do esplendor tan singular.

Unha voou ata unha distancia

para mellor ver a xanela

dun pazo no que ardía unha candea.

A penas achegada ela voou

dando unha reviravolta

para dicer ós outros o que atopara.

O mentor das bolboretas quixo disculpar

o que ela declaraba, dicindo:

“Ela non sabe ren da combustión”.

Outra bolboreta, que comparando, era máis arriscada

que a anterior, partiu para o pazo

e pasou alén da súa entrada.

Banbeóuse cun desexo temeroso polo éter,

arrededor da aura azul do lume que tremaba,

voltando para dicer canto de lonxe ela chegara

e todo canto vira e alí acontecera.

O mentor dixo: “Non posúe os sinais

de alguén que sobre o lume das candeas saiba máis”

Outra bolboreta partiu – virando no seu voo

fixo cortexo da luz escintilante;

mergullando e voando no alto no seu paso axitado,

ego e lume, pola danza, coma un só ser foi misturado.

As ás, o corpo e a cabeza engulidas pola chama;

o seu ser brilaba nunha terríbel traslucida cor-de-flama.

No canto o mentor viu o ardor

as bolboretas viran nos brilantes raios a perda e a dor

e dixeron: “Ela sabe, ela sabe a verdade que percuramos,

aquela verdade oculta da que non falamos”.

Ir ó alén de todo coñecemento presente

é atopar a comprensión que evita calquera mente,

pois non poden chear ó obxectivo hai tempo ansiado conseguir

sen denantes xunguirse en corpo e alma.

Mais chega un anaco de ti, para tirar para diante,

un cabelo, para lanzarte a la desesperanza.

Non se conforma creatura ningunha

cando se quere que a identidade sume.

Farídu’d-Din ‘Attár (1117-1230).
Trad. do portugués de Antiqu’t-Tayr (A Conferência dos Pássaros)
Trad. de Xosé Martínez-Romero Gandos.

11 junho, 2006 18:39  
Anonymous Anónimo disse...

I saw your English translation of this nice Poem. How about, I give you the Divan of Hafez as a present? Really nice this poem. I hope to see more poems in this blog. Take care

Shahin

11 junho, 2006 19:48  
Anonymous Anónimo disse...

Epah mt bom..a traduxao ta mt bom mxmo e eu admiro mt as pexoas k têm exa facilidade d traduxao mxm d koisas complikadas=).(va ja k eu n tnh tb neh=/..)Mx Sim senhora..e o poema em si tb é mt fixe..e a ideia d kererex comexar o blog tb foi mt fixe so k ja sabx k vai ter mt trabalho;) vá olha fiko à espera d +++ cenas d Sam Khan..Sam the Ki.....ng!: P
Va bjos******e kontinua a tua cena..
Holla!

11 junho, 2006 20:39  
Anonymous Anónimo disse...

Sam!! Ficou muito bom o seu blog!! um grande abraço meu querido!!

11 junho, 2006 21:15  
Anonymous Anónimo disse...

this reminds me of portuguese class back in liceu. I was traumatized by my teacher, so poems and the portuguese language is a deadly combination at least for me. I couldn't concentrate on it, maybe cause im tired as hell e vou cair pao lado, e portugal jogou tao reles pa, o palhaco do simao, com caracas, arg...
I'll come back and read it quando tiver mais concentrado or concertado, lol.
PAYCE!

11 junho, 2006 22:06  
Anonymous Anónimo disse...

A história é bela e muito proxima do sexto e setimo vale dos 'Sete Vales' de baha'ullah, em que o ser é fundido com toda a existencia e passa a ser nada para poder ser todo.. atingido só aí a plenitude. CoencidÊncia ou não, este conceito também é usado pelo Rumi e outros poetas persas e árabes, nomeadamente Ghazali.
Será um conceito copiado, aprendido e transmitodo pela cultura, ou será esta uma condição essencial para felicitar o 'amante'?!?! Obrigada Sam, beijos a todos

12 junho, 2006 18:32  
Anonymous Anónimo disse...

Aprovado!
Um beijo efêmero.

13 junho, 2006 19:21  
Anonymous Anónimo disse...

Parabéns pela iniciativa de promover a arte de letras para além das barreiras linguísticas, sem fronteiras, tentando mostrar um pouco a beleza da literatura na diversidade (de persa para inglês, para português, para galego, …).
Fazendo jus da língua portuguesa, esquecendo um pouco o português europeu, o português brasileiro, o português… mostrando como o ser humano pode ser um ser mais belo quando abandona os seus preconceitos criados por ele mesmo e se tornar um CIDADÂO DO MUNDO.
E você continua assim um CIDADÂO DO MUNDO.
Beijos

14 junho, 2006 18:35  
Anonymous Anónimo disse...

Meu cArO JoVeM... QUero lhe dar os parabens como esta belo =p
quero dixer te ke esta ideia de faxeres um blog foi mt genial eheh
e falando da fe sobretudo ta fixe
beijos fikam aki votos de mt sorte

16 junho, 2006 20:10  
Anonymous Anónimo disse...

parabens!!
fez me xorar ...como este poema esta lindissimo!!

16 junho, 2006 20:11  
Anonymous Anónimo disse...

Hey Sam khan,
just a 3 words : be always happy !
a mysterious Lydia

17 junho, 2006 20:53  
Anonymous Anónimo disse...

Muito o Rumi tira prazer da dependência! No entanto não entendo o sendos dos 'três dias'... alguém?? ps: Sam, põe a dos amantes que não dormem :D

18 junho, 2006 02:08  

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial