domingo, julho 13, 2008

Mais um episódio do trágico épico iraniano

Preso por quase uma década. Em solitária por 17 meses. Chicoteado com cabo metálico, seus testículos espancados e seus dentes vítimas de chutes e pontapés. Sua cara era afogada em excremento e seus braços amarrados por trás e pendurado de cabeça para baixo no teto. Amarrado em cadeiras durante noite e dia, era cortado e as sobre suas feridas era jogada sal.

De quem falo? Provavelmente estarei a falar de algum familiar meu que passou anos na prisão iraniana de Evin, ou algum dos sete bahá’ís presos recentemente, ou algum babí do século passado.

Mas desta vez falo de Ahmad Batebi, um jovem de 31 anos (hoje) que fugiu através do Iraque e com a ajuda das Nações Unidas, encontra-se hoje em Washington. O seu crime? O mesmo de sempre: não pensar como o Regime instituído!

A história
Houve uma manifestação em 1999 (18 de Tir, no calendário iraniano), que juntou estudantes que protestavam contra o encerramento do jornal Salam. Ao que entendo, ele acabou por entrar, por mero acaso, na manifestação e por mais azar ainda, um jovem a seu lado foi alvejado pelos contrataques da polícia. Após levá-lo a uma clínica, aonde veio a falecer, Batebi alega ter levado a camisa ensagrentada so companheiro para acautelar os estudantes contra a manifestação.

Preso! Torturado! Era-lhe exigido afirmar em televisão que o sangue era de animal ou mera tinta. Negou-o. Quando insultado, dizia insultar o carcereiro. Quando agredido, diz que tentava agredir de volta.

E, para agravar tudo, o Economist havia publicado a sua fotografia segurando a camisa sangrenta do seu colega, não mais não menos que na capa da sua edição.
Mas foi mesmo isso que lhe deu notoriedade internacional e a sorte de poder mais facilmente pedir exílio a outro país.

E agora: será que o deixam em paz? No Iraque, com um telefone que lhe havia sido dado pelas Nações Unidas, recebeu um telefonema: “Sabemos onde estás. Tens que te entregar”, era a voz de um de seus inquisidores no outro lado da linha que, brilhantemente, encontra-se gravado.

Já o vi falar em televisão, e já li algumas coisas sobre ele. E, por isso, não sei como terminar este texto, senão citando o final do New York Times, de onde tirei a maioria do material que aqui exponho:

“Poderei regressar e ir lutar eu mesmo pelo meu país”.

Ele possui algumas metas comuns, os sonhos de um homem que passou a maior parte dos seus 20s numa cela de prisão. Quer estudar política e sociologia, diz, e trabalhar como fotojornalista. Quer tocar guitarra. Pensou por um momento, então lembrou-se de uma mais modesta ambição.

“Quero pescar!”. O Sr. Batebi disse, sua face relaxando até a um sorriso. “Eu vou indo pescar!”

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