Eleições EUA: o último dos tabus
Idade? Género sexual? Origem étnica?
Num artigo publicado no mês de Janeiro Gloria Steinem – uma admirável mulher que nos fez, há duas décadas (quer dizer, no meu caso não foi bem duas décadas…), pensar o que seria de Freud e da psicologia se ele fosse uma mulher – analisa uma mulher fictícia: Achola Obama, o alter-ego feminino de Barack Obama, o candidato presidencial. Ela diz:
A mulher em questão torna-se advogada após alguns ano, casa-se com um advogado corporativo e é mãe de duas meninas, de 9 e 6 anos. Ela mesma é filha de uma americana branca e de um africano negro – (…) sendo considerada negra – serviu como legisladora no seu estado por oito anos e tornou-se uma inspiradora voz para a unidade nacional.
Seja honesto: Acha que é a biografia de alguém que poderia ser eleito para o Senado do Estados Unidos? Depois de menos que um mandato lá, acredita que ela poderia ser um candidato viável para encabeçar a mais poderosa nação na terra?
E, ao ler, pensei: o que seria de Hillary Clinton se ela tivesse o seu Currículo e fosse negro e não branca? A autora diz que, tristemente, há dois pesos e das duas medidas nesta corrida:
O que me preocupa é que ele seja visto como unificador pela questão da raça enquanto ela é divisora pelo seu sexo.
O que me preocupa é que ela é acusada de "jogar a carta do género" quando cita o clube dos rapazes, enquanto ele é visto como unificador ao citar os confrontos pelos direitos civis.
O que me preocupa é que votantes homens de Iowa tenham sido vistos como livres de género ao apoiar um deles, enquanto que votantes femininos são vistos como enviesados se o fizessem e desleais se não o fizessem.
Geraldine Ferraro, por sua vez, propõe que sejam feitos estudos que verifiquem se, ipso facto, houve a (in)devida utilização das questões sexuais e raciais na campanha democrata.
Dá que pensar, não? Afinal estarão as pessoas a votar no que? Na pessoa que consideram mais adequada ao lugar, naquela de melhor imagem, ou naquela com quem se identificam mais?
Já na questão da idade, parece que a coisa amolece: ou não se tem qualquer respeito pela questão etária, ou se considera perigoso brincar com a questão sexual ou racial.Jay Leno, do Tonight Show, brinca e diz que "Operativos Democratas estão a procura de algo sobre John McCain. Sabem o que se chama a alguém que desenterra coisas sobre McCain? Um arqueólogo". "Ontem tivemos Cindy McCain e ela falou da sua antiguidade favorita: o seu marido".
No Late Late Show Craig Ferguson disse que "John McCain admitiu hoje não ter votado em George W. Bush. Ele, contudo, votou em George Washington.
Obviamente, ninguém faz uma piada sobre a questão racial. Será que preconceito etário (idadismo) não é tão grave quanto o preconceito racial? Possivelmente poucos eleitores daquele país arriscariam dar uma resposta. A Newsweek, por exemplo, foi capaz de a 24-25 de Abril verificar que 19% dos sondados não consideraria o EUA preparado para um líder máximo afro-americano e 7% não estariam seguros. E quando se perguntava aos 74% que disseram que sim, 53% deles achava outros que disseram que sim poderiam estar a mentir (projeção? disseram eles mesmos que sim por ser o politicamente correto?).
É interessante como três aspectos humanos parecem estar aqui
- Idade? McCane?
- Raça? Obama?
- Sexo? Clinton?
Ou, então, simplesmente, demonstrar maturidade e votar no que lhes pareça ter melhor carácter e ser mais competente (será?).
Termino parafraseando Anna Holmes, num artigo recente sobre a campanha democrata:
Por muito tempo, a história da mulher, a questão racial e o preconceito etário têm sido histórias de silêncio. Já é tempo de se começar a fazer algum barulho.
Etiquetas: EUA, Lideranças, Psicologia
1 Comentários:
Venho agradecer-te a vista de há uma semana...
O sujeito em questão continua a ser um homem mas de origem mongol (ou ameríndia).
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