sexta-feira, maio 16, 2008

Acordo Ortográfico (2 de 3) - Ser contra é estar na moda ou é saber algo?

Ser contra

A última moda do momento é ser-se contra o Acordo. O que não entendo é porque agora é que é moda e não era moda há uns anos quando foi discutido em sede própria. Pois bem, suponhamos ainda que ninguém tinha reparado no Acordo e que só hoje é que despertamos para a sua aparente ilógica. Mas, valerá a pena a argumentação bacoca que se tem lido nos últimos dias na internet?

Os argumentos que mais tenho lido em defesa de uma certa petição e contra o Acordo seguem, a sublinhado, com os meus comentários em frente.

  • A questão etimológica: Se do latim passámos ao galaico-português e deste ao português, sem quaisquer problemas, de onde surge esta questão dentro do mesmo idioma? Se a origem da palavra se faz importante, poderemos então defender a utilização de mause ao invés de dizermos rato em Portugal? Ou veículo de duas rodas ao invés de dizermos motocicletas? Pergunto ainda, aonde estão as razões etimológicas para termos presidenta em nossos dicionários?
  • “Se são portugueses e vos resta algum orgulho nacional”: Será que isso me inclui ou por ter adquirido a nacionalidade serei menos português? Será este o argumento daqueles desprendidos que se preocupam pela unidade dos povos? Como diria alguém: sejamos patriotas, mas universais.
  • “Ninguém tem que alterar a sua forma de escrever para que nos entendamos. Nem os portugueses, nem os guineenses, nem os brasileiros!”: De facto, ninguém precisa alterar, até porque Fernão Lopes, Pêro Vaz de Caminho, ou Luís de Camões escreviam como nós e eles nunca teriam deixado mudar a sua escrita…
  • Comparações com espanhóis e hispano-americanos, britânicos e estadunidenses: No primeiro caso eles têm uma Associação de Academias de Língua Espanhola e todas as grandes decisões são tomadas em conjunto (alguém leu, por exemplo, a versão revista de D. Quijote ou de Cien años de soledad, os grandes exemplos literários de unidade idiomática?), e no segundo caso eles nunca fizeram da questão idiomática cerne de grandes discussões, mas nós de língua portuguesa sempre o fizemos, fazendo a primeira comparação um erro de lógica e da segunda uma impossibilidade (os primeiros são exemplares no trabalho e os segundos nem se preocupam com o tema).
  • Em Portugal se altera mais que no Brasil: Ainda que me pareça mais um argumento nada adulto (“se ele pode eu também posso” ou “ele não pode mais que eu” é o a género de argumentos de crianças que discutem pelos mesmos direitos que seus irmãos mais velhos e não de adultos que debatem temas sérios), confesso que em número de palavras trata-se de uma verdade (1,6% do vocabulário em Portugal e 0,45% no Brasil), mas em regras já vimos que é o contrário, que no Brasil haverá mais novas regras que em Portugal.
  • A possibilidade de haver mais que uma grafia poderá levar a confusões: Na realidade a aceitação dessas grafias para palavras como contacto e contato significa que ambas passarão a ser válidas e ninguém poderá ser criticado por usar uma e não a outra.
  • A necessidade de diversidade entre os povos de idiomas lusófonos deixará de ser respeitada: É deveras interessante ler este comentário logo a seguir ao anterior que critica a possibilidade de diversidade…
  • O idioma é mais que a sua ortografia, é a sintaxe, a semântica, a gramática no seu todo; tal mudança não irá aproximar nada: Talvez não, mas poderá ser o primeiro passo. Pergunto-me se já há tanto barulho por ser só ortográfico qual seria se o Acordo estipulasse todas estas mudanças…
Pergunto-me e só perguntas poderei fazer...

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