Contextos diferentes, realidades vigentes
Ontem, a Venezuela e a Rússia foram a votos.
Contextos diferentes, realidades diversas, mas psicologia política igual. Conforme explica Krastev (Courrier Internacional), "a democracia e as eleições são a única fonte de legitimidade reconhecida no mundo. A violência como instrumento de perpetuação do poder acabou por atingir um preço demasiado caro" que deve ser, a todo custo, evitado.
Putin e Chávez não poderiam, por meio da força, fazer de uma revolução uma guerra civil, perpetuando a morte de dezenas, centenas e milhares, mas podiam gastar fundos que poderiam servir para a investigação científica, para a educação, para a ajuda aos pobres, em campanhas injustas, para se perpetuar no poder.
As estratégias foram distintas. Chávez quer alterar uma constituição e Putin quer aproveitar-se da constituição vigente. Chávez não sabe que a meio do jogo não se podem mudar as regras, e é um latino de sangue quente, que quer fazer o que acha que é melhor (para quem, não sei bem) e quer, ao seu jeito latino, dançar a música que ele quer ouvir. Já Putin é frio e calculista, filho de um KGB esfumado com a guerra fria que sabe como, por trás dos panos, das regras e dos poderes manter o seu poder.
O primeiro não pára quieto com o braço quando põe a Bolívia no frizer/congelador ou quando ameaça nacionalizar os bancos adquiridos pela economia espanhola: gosta de mostrar quem manda pelo grito de quem tem medo de ouvir, pela boca que ofende, mas não gosta que lhe digam a verdade. O último não é convincente quando fala das armas no Irã, da sua posição perante o teatro ou a escola massacrada: o seu olhar foge a quem lhe filma ou vê na televisão e fala para dentro como que não sabendo bem como dizer.
E ambos parecem que, na escala de McClelland, estariam motivados para o poder: nada de motivação para a afetividade ou a relação com os demais, ou para o sucesso de um bom trabalho. Gostam de chamar a atenção, mostrar a diferença, mostrar que têm opinião e que a irão manter, sob qualquer risco.
Mas eles não são os primeiros da história humana aparentemente motivados pelo poder, na renovação do seu cargo, através de uma ilusão de democracia. Mário Soares foi ministro, primeiro-ministro, presidente da república, eurodeputado, candidato a presidente da república, presidente da comissão de liberdade religiosa, ...; Tony Blair foi eleito uma, duas, três vezes para a liderança do governo inglês; e Xanana Gusmão e Ramos Horta permutaram os seus cargos de presidente e primeiro ministro.
A diferença? A diferença é que estas pessoas parecem saber quando e onde pararem. Admitem os seus erros e dificuldades. Escutam os amigos e, mais importante, escutam aos inimigos (e recebem-lhes elogios). Às vezes optarão por ignorar uns e outros, mas agirão segundo o que poderá ser a sua responsabilidade pessoal.
Chávez diz que o EUA isso e o outro e de Espanha aquilo e o acolotro. Não assume os seus próprios erros. Não sabe o que quer e para onde quer ir, a não ser para um pavilhão de deuses socialistas, sem saber bem o que é o socialismo. Putin, não muito diferente, para lá caminha. A diferença? A diferença é que a liberdade de pensamento se manteve na Inglaterra de Blair, em Portugal de Soares e em Timor de Gusmão/Horta. A diferença? A diferença é que a maioria do povo está em condições mínimas de vida, enquanto que em Venezuela há caviar, mas não há leite e em Moscou há progresso e no resto do país há regresso e que a imprensa pode (mais ou menos) ter liberdade. A diferença é que "Chávez e Putin convivem mal com a diferença de opiniões e com oposições. São ditadores em potência: poderosos, populares e populistas. O petróleo e o gás natural tornam-nos perigosos -- e não só para os seus países" (Madrinha, Courrier Internacional), mas para toda a humanidade.
A imagem é a primeira página do melhor jornal português...
Contextos diferentes, realidades diversas, mas psicologia política igual. Conforme explica Krastev (Courrier Internacional), "a democracia e as eleições são a única fonte de legitimidade reconhecida no mundo. A violência como instrumento de perpetuação do poder acabou por atingir um preço demasiado caro" que deve ser, a todo custo, evitado.
Putin e Chávez não poderiam, por meio da força, fazer de uma revolução uma guerra civil, perpetuando a morte de dezenas, centenas e milhares, mas podiam gastar fundos que poderiam servir para a investigação científica, para a educação, para a ajuda aos pobres, em campanhas injustas, para se perpetuar no poder.
As estratégias foram distintas. Chávez quer alterar uma constituição e Putin quer aproveitar-se da constituição vigente. Chávez não sabe que a meio do jogo não se podem mudar as regras, e é um latino de sangue quente, que quer fazer o que acha que é melhor (para quem, não sei bem) e quer, ao seu jeito latino, dançar a música que ele quer ouvir. Já Putin é frio e calculista, filho de um KGB esfumado com a guerra fria que sabe como, por trás dos panos, das regras e dos poderes manter o seu poder.
O primeiro não pára quieto com o braço quando põe a Bolívia no frizer/congelador ou quando ameaça nacionalizar os bancos adquiridos pela economia espanhola: gosta de mostrar quem manda pelo grito de quem tem medo de ouvir, pela boca que ofende, mas não gosta que lhe digam a verdade. O último não é convincente quando fala das armas no Irã, da sua posição perante o teatro ou a escola massacrada: o seu olhar foge a quem lhe filma ou vê na televisão e fala para dentro como que não sabendo bem como dizer.
E ambos parecem que, na escala de McClelland, estariam motivados para o poder: nada de motivação para a afetividade ou a relação com os demais, ou para o sucesso de um bom trabalho. Gostam de chamar a atenção, mostrar a diferença, mostrar que têm opinião e que a irão manter, sob qualquer risco.
Mas eles não são os primeiros da história humana aparentemente motivados pelo poder, na renovação do seu cargo, através de uma ilusão de democracia. Mário Soares foi ministro, primeiro-ministro, presidente da república, eurodeputado, candidato a presidente da república, presidente da comissão de liberdade religiosa, ...; Tony Blair foi eleito uma, duas, três vezes para a liderança do governo inglês; e Xanana Gusmão e Ramos Horta permutaram os seus cargos de presidente e primeiro ministro.
A diferença? A diferença é que estas pessoas parecem saber quando e onde pararem. Admitem os seus erros e dificuldades. Escutam os amigos e, mais importante, escutam aos inimigos (e recebem-lhes elogios). Às vezes optarão por ignorar uns e outros, mas agirão segundo o que poderá ser a sua responsabilidade pessoal.
Chávez diz que o EUA isso e o outro e de Espanha aquilo e o acolotro. Não assume os seus próprios erros. Não sabe o que quer e para onde quer ir, a não ser para um pavilhão de deuses socialistas, sem saber bem o que é o socialismo. Putin, não muito diferente, para lá caminha. A diferença? A diferença é que a liberdade de pensamento se manteve na Inglaterra de Blair, em Portugal de Soares e em Timor de Gusmão/Horta. A diferença? A diferença é que a maioria do povo está em condições mínimas de vida, enquanto que em Venezuela há caviar, mas não há leite e em Moscou há progresso e no resto do país há regresso e que a imprensa pode (mais ou menos) ter liberdade. A diferença é que "Chávez e Putin convivem mal com a diferença de opiniões e com oposições. São ditadores em potência: poderosos, populares e populistas. O petróleo e o gás natural tornam-nos perigosos -- e não só para os seus países" (Madrinha, Courrier Internacional), mas para toda a humanidade.
Pergunto-me quando é que as lideranças deixarão de querer rebanhos atrás de si e passarão a ser eles uma ovelha ao lado de outras, numa liderança baseada na real e desprendida consulta entre todos os que pensam igual e pensam diferente. Quando?
A imagem é a primeira página do melhor jornal português...
Etiquetas: Courrier Internacional, Espanha, EUA, Inglaterra, Lideranças, McCelland, Portugal, Psicologia, Rússia, Timor-Leste, Venezuela
3 Comentários:
O engraçado, Sam, é que no caso da Venezuela, especialistas, institutos de pesquisa e que tais entraram bem. No final, a população disse um sonoro Não ao Chaves.
Nossa, fiquei aliviada com esse NÃO, vamos ver agora o desenrolar dos fatos... Esses sistemas tiranos de governo demonstram o quanto a humanidade tem que evoluir ainda...
Abraços,
Adriana
O Público é futurista, deve ter consultado Maya…
Aí publicou o resultado do próximo ou dos próximos referendo em Venezuela!!!
Até 2013 ainda muita água vai rolar…
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