sábado, novembro 24, 2007

Para quando a lua cheia?

Há uns dias atrás recebo um email com fotos de dois familiares meus que acabam de dar à luz. Pela alegria traçada no rosto dos pais, parece que a criança é saudável e está tudo bem.

Bem, estaria tudo bem não fosse o local onde a criança nasceu. Existe algures no nosso planeta um país que viola tão abusivamente os direitos humanos que eu nem consegui incluí-lo num texto dedicado ao tema.

Trata-se de um país que, sob a falsa égide da religião, fere, mata e massacra milhares de almas por dia. Não se trata apenas do massacre genocida físico, mas do genocídio da alma humana, da sua liberdade e da sua capacidade de evoluir. Não preciso pesquisar muito para saber as novas desse país de liderança umbilical, vejam-se os exemplos só do último mês:


  • Feizollah Roshan é preso sob o crime de "ensinar a Fé Bahá'í, ser membro e servir na comunidade Bahá’í e ajudar a juventude Bahá’í" (para quem não sabe, bahá'í é uma religião cujo intuito não-político é o de servir ao progresso da humanidade);
  • Delaram Ali é presa por "agir contra a segurança nacional" e "publicitar contra o sistema" (porque ela participava de uma campanha pacífica de recolha de assinaturas pelos direitos das mulheres iranianas);
  • Emadeddin Baghi é preso por "propaganda contra o sistema" e "publicar documentos secretos do governo" (por agir como presidente da Sociedade para a Defesa dos Direitos dos Presos);
  • 180 sufis foram presos por alegadamente atacarem um templo xiita (quando os sufismo é um movimento islâmico pacífico) e os seus advogados de defesa ameaçados e presos, com as autoridades alegadamente incentivado a agressividade popular contra eles.

Além disso, continua a ser o país:

O país aonde esta criança nasceu é o mesmo que já foi um dos maiores impérios do mundo, apogeu da verdadeira democracia humana, relatora da antiga carta de Direitos Humanos do mundo, e que hoje se manifesta na insanidade de alguns líderes que, com a religião como desculpa cometem atrocidades sem fim.

O pior é que essa criança crescerá com uma educação bahá'í, o que implica a educação pela liberdade e responsabilidade, pela igualdade entre homens e mulheres, pelas decisões participativas. Pior porque crescerá no Irã, país onde exatamente o contrário é a realidade.

Então, quando Lino Resende e Pedro Delgado Alves notam que os números das religiões estão a mudar, o extremismo é a sua causa. Se os líderes religiosos entendessem que a religião é causa de concórdia e não de lutas e contendas, a coisa poderia ser resolvida! Mas, o que fazem é entrar em debates internos entre um líder e outro que tentam ver quem tem mais poder e as pessoas começam a perder o seu interesse pela re-ligação entre seres humanos.

Por isso, pergunto-me, tal como diz o Marco, se a hipocrisia ao mais alto nível cessará. E me pergunto, se deveria haver uma invasão internacional ou não. Será que mais vale acabar de uma só vez com a opressão daquela nação para permiti-la renascer de suas cinzas ou deveríamos deixá-la morrer em sorfimento, lenta e dolorosamente? Respondendo ao João Tunes: não sei!

Mas, apesar de tudo, acredito que haja esperança para que o mais novo membro da minha família cresça num ambiente de paz e responsável liberdade no mesmo país onde nasceu. No mesmo Irã que, apesar de tentar, com o apoio de outros dois bastiões (Venezuela e Paquistão), adiar a discussão da sua situação dos Direitos Humanos (proposta de ação A/C.3/62/L.43), não o conseguiu por força contra-argumentária do Canadá (principal impulsionador do debate) e do Liechtenstein: a moção de censura (A/61/443/Add.3 com alterações) contra a situação foi aprovada com 72 votos a favor, 50 contra e 55 abstenções.

Resta saber até quando olharemos para o céu e não entenderemos...

que a lua dos direitos humanos, que está diante nós, não está a minguar mas a crescer, para atingir o seu máximo esplendor como lua cheia que espelha a luz do sol e nos liberta da noite escura.

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