sexta-feira, maio 23, 2008

O dia em que tudo começou, em 1844!

[os mais sensíveis poderão desejar não ler este texto, eu mesmo tive dificuldades em escrever partes dele...]

Hoje, bahá’ís de todo mundo estariam comemorando alegremente a Declaração do Báb, o Arauto da Fé Bahá’í. E, não fosse a nossa prescrição de comemorar mais do que entristecer, poderíamos estar celebrando o início das perseguições aos bahá’ís. Em 1844, quase ao mesmo tempo que Samuel Morse enviava a mensagem que viria alterar o rumo da ciência, noutro ponto do planeta, o Báb anunciava ser o Prometido aguardado pelas Escrituras Sagradas de religiões anteriores, Cuja missão seria preparar o caminho para Um maior que Ele que – de acordo com aquelas Escrituras – viria inaugurar uma Nova Era espiritual para a humanidade, aonde a retidão e paz seriam aclamadas, iniciando um novo ciclo na história religiosa da humanidade.

Como muitos saberão, a Fé Bahá'í gira a volta de três Figuras centrais, a primeira das quais era um jovem de 25 anos nativo da cidade de Shiráz (a mesma dos 54 jovens bahá’ís presos) conhecido como o Báb (do árabe, a Porta).

O fanatismo déspota iniciou rápida e severa perseguição, precipitando a prisão do Báb, Seu exílio às montanhas do Azerbaijão, aprisionamento na fortaleza de Máh-Kú e Chihríq e a Sua execução, em Julho de 1850, por um esquadrão de fuzilamento em praça pública de Tabríz. Não menos de 20 mil de Seus seguidores foram mortos com tal crueldade bárbara que chegou a evocar a simpatia e a inqualificável admiração de um número de escritores, diplomatas, viajantes e académicos ocidentais, alguns dos quais foram testemunhas desse abominável ultraje, e foram levados a registá-lo.

O escritor português, Eça de Queirós, chegou a escrever que

Calado, invadido pelo pensamento do Báb revolvia comigo o confuso desejo de me aventurar nessa campanha espiritual… Por que não? Tinha a mocidade, tinha o entusiasmo… Via-me discípulo do Báb… E partia logo a pregar, a espalhar o verbo babista. Onde iria? A Portugal, certamente, levando de preferência a salvação às almas que me eram mais caras.

Leo Tolstoy afirmou que

Os ensinamentos dos Bábís possuem diante de si grande futuro… Portanto, simpatizo com os ensinamentos babís de todo o meu coração, já que ensinam a fraternidade, a equanimidade e o sacrifício da vida material em favor do serviço de Deus…

A vida de muitos bábís foi-se convertendo em vidas exemplares, semelhantes às dos apóstolos e discípulos de Cristo, que eram degolados por leões, aos olhos de todos. Doutos do clero e líderes estatais queriam, uma vez mais, cortar a árvore da religião com o machado do sangue. Mas não conseguiram! Chumbo derretido era derramado pela garganta de um depois de torturado impiedosamente enquanto soldados colocavam velas acesas em buracos feitos no corpo de outro. Foram procurados de casa em casa, presos, condenados a mortes indescritíveis. Um oficial austríaco chegou a descrever aqueles que

com os olhos arrancados, devem comer, no local do suplício, sem qualquer tempero, suas orelhas amputadas; ou estes cujos dentes são extraídos com desumana violência pela mão de seu executor; ou estes cujos crânios nus são esmagados a golpes de martelo; ou ainda, estas infelizes vítimas que servem de lampadários ao mercado, tendo (…) seus peitos e ombros profundamente cavados pela populaça que insere mechas acesas nas feridas abertas. (…) Não raro acontece que o infatigável engenho dos orienteis se dirige no sentido de torturas novas. Assim, esfolarão as plantas dos pés do babí, embeberão as feridas em azeite fervente, calçarão os pés com ferradura em casco de cavalo e obrigarão a vítima a correr. Nenhum gemido se ouve do peito da vítima; o tormento é suportado em tétrico silêncio pela sensibilidade entorpecida do fanático; deve correr, agora; o corpo não pode suportar o que a alma suportou – cai. (…) Vi cadáveres esfrangalhados por cerca de cento e cinquenta balas. Quando releio o que já escrevi tenho a impressão de que aqueles que estiverem convosco em nossa mui querida Áustria duvidarão da inteira veracidade deste quadro, acusando-me de exagero. Prouvera Deus que eu não tivesse vivido para vê-lo!

Prouvera Deus que eu não tivesse que o ler, pensando que a história se repete ou poderá repetir! Que os bastiões dos Direitos Humanos se ergam: governos e estadistas, pessoas comuns como cada um de nós, ergam e demandem o fim deste século e meio de sofrimento baixo o jugo do fanatismo! Será necessário repetir o erro do passado remoto em que cristãos sofreram por 3 séculos: os bahá’ís terão que sofrer ainda século e meio? Um sofrimento cujo propósito é a eliminação completa desta Fé?

Enganam-se aqueles que crêem que conseguirão tal proeza! O Professor Benjamin Jowett, Mestre de Balliol, afirmou que apesar do descrito,

Não será impossível ao movimento Bábí vir a se mostrar possuidora da promessa do futuro.

Este Movimento Bahá’í é a maior luz que apareceu no mundo desde o tempo de Jesus Cristo. Devem observá-lo e nunca perdê-lo de vista. É demasiado grande e está demasiadamente próximo para que esta geração o compreenda. Somente o futuro poderá revelar sua importância.

Para os que ainda não entenderam o crime dos bahá’ís iranianos, a Freedom to Believe Foundation explica-o bem:

Estes homens e mulheres, junto com milhares de bahá’ís no Irã que foram aprisionados, torturados e executados no decurso do último século estritamente por causa de suas crenças. E qual é o seu crime? São cidadãos do mundo que têm uma lealdade sadia ao seu país e desejam vê-lo prosperar. (…) Por causa de sua fé, não participam em partidos políticos e mantém-se firmes às suas convicções de que todos os povos deveriam ter o direito à consciência. Acreditam, em última instância, que a raça humana é uma família, que somos guiados e protegidos por um Deus, o Fundador de todas as grandes religiões da humanidade, que nos ensinam a respeitar o próximo, apreciar a diversidade de crenças e amar ao próximo.






[O vídeo faz mostra documentos do Estado Iraniano demandando a vigilância, expulsões e restrições aos bahá'ís, mostra alguns dos bahá'ís presos e mortos no Irã (pessoas comuns, líderes da comunidade bahá'í, jovens trabalhando como professores, crianças e jovens como Ruhu'lláh e Mona), a lista dos executados e desaparecidos, a destrução de locais sagrados (templos, sítios históricos, cemitérios), slogans anti-bahá'ís em paredes de casas]

Etiquetas: , , , ,

2 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

É preciso dizer um basta a todo tipo de opressão.

25 maio, 2008 11:35  
Blogger @David_Nobrega disse...

O que indigna é que se use a religião, seja lá qual for, como pretexto para se agir qual o animal que realmente é.
Tu sabes, não sou religioso. Mas a estupidez humana me dá asco.

30 maio, 2008 16:25  

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial