sexta-feira, janeiro 11, 2008

A Bússola Dourada e a Fé de ouro

A Bússola Dourada (ou Bússola de Ouro) é um filme cheio de críticas sociais, estereótipos e arquétipos. Um filme que conjuga a doença humana com a esperança da salvação pelo nosso próprio esforço.

Supostamente, a história de Pullman ocorre num universo paralelo ao nosso, no qual as leis e os princípios da metafísica são diferentes. As almas não estão em nós (numa espécie de transcendência), mas estão ao nosso lado, literalmente, como a voz da consciência e o órgão de sentido, ajudando-nos a tomar as nossas decisões.

À alma dá-se o nome de demónio (como se poderia dar o nome de avatar, ou até arquétipo, totem ou qualquer outra coisa) e ela possui a forma de um animal. Parece-me que os demónios assumem a forma do animal que possui os nossos atributos: uma serpente se sou membro de um grupo secreto e traiçoeiro, um cão se sou um servo, um lobo se sou um guerreiro impetuoso, um macaco se sou cheio de truques, um coelho se sou astuto, ou mesmo um lince se aparento ser rápido e sábio. Há uma relação intrínseca entre os dois seres: um não existe sem o outro.

De facto, uma pessoa poderia concordar com o Vaticano quando diz que nesse mundo “esperança simplesmente não existe”. Cada um é o animal que é, e não há, aparentemente, mudança. Se hoje sou servo, serei sempre servo-cão. Se hoje sou guerreiro, serei sempre um lobo.

Mas, as coisas não são assim, tão lineares! Trata-se de um mundo onde o mais humano de entre nós se vê em cada ato e em cada decisão. Nada, nem a instituição dogmática pode impedir o progresso individual e a livre escolha por um caminho ou por outro.

É o filme que não nos afasta de Deus (como insiste a opinião oficial da Igreja Católica) mas que nos faz perceber o perigo que surge quando a fé se converte em dogma, e impede o progresso. A história nos alerta para a grande decisão que a humanidade tem que tomar: a religião sem a ciência ou a religião com a ciência? Qual é o caminho a seguir?

Nota: Também foi interessante notar que os estereótipos nacionais do filme (não sei se na obra escrita o mesmo ocorre). Por exemplo, as pessoas de sotaque inglês eram os nobres e intelectuais, o personagem mais astuta de todas era um estadunidense com sotaque do sul, e os agentes policiais não só se vestiam como as forças turcas, russas e arménias de há dois séculos, como pareciam falar um idioma semelhante ao russo.


Aqui podem encontrar mais fotografias
filme.

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3 Comentários:

Blogger SaM disse...

"nos faz perceber o perigo que surge quando a fé se converte em dogma, e impede o progresso"

Acredito plenamente que isto será verdade, poderá ser bom para o ser Humano acreditar em algo, é até benefico meditar, mas lá está tudo têm oo seu contrapeso e medida, acreditar cegamente em algo faz-nos fugir dos caminhos da verdade, e julgo não ser nada Bom a nivél psicologico.. MAs para isso temos aqui alguém entendido para nos o explicar..
Abraço

Cumps
SaM

12 janeiro, 2008 02:13  
Blogger Osc@r Luiz disse...

Um gentleman é o que você é, Sam.
Muito obrigado por toda a sua gentileza.
Espero também ter o privilégio de compartilhar da sua sabedoria por anos a fio.
Um grande abraço e o meu muito obrigado!

12 janeiro, 2008 14:15  
Blogger Aeroporto de Alcochete disse...

De grande conhecimento se constrói a sabedoria...

Um respeitoso abraço,

vindo de longe, com amizade,

sonhos e paradoxos

13 janeiro, 2008 16:23  

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