domingo, janeiro 13, 2008

Ainda o Dia dos Direitos Humanos...

Como muitos se recordarão, por ocasião do Dia dos Direitos Humanos participei da organização da campanha de blogagem Coletiva Um mundo, uma vida. Por isso mesmo, recebi o gentil convite de Gabriela Zago, estudante de jornalismo e blogger, para uma entrevista que daria origem à matéria em inglês publicada num jornal eletrónico internacional.

Gabriela: Como você teve a idéia de iniciar a campanha Um mundo, Uma vida? De onde vem a preocupação com os direitos humanos?
Sam: A minha preocupação pelos Direitos Humanos vem da minha infância. A minha religião é a Fé Bahá'í e fui educado com esse amor à Humanidade, à diferença e aos valores humanos. E, na minha infância, lembro de ter lido ou ouvido nalgum lado as palavras de Bahá'u'lláh (o Fundador da Fé Bahá'í) comparando a Humanidade ao corpo humano, perfeito em potencial mas afligido por doenças diversas. Ele admoestava as pessoas dizendo: "Sede como os dedos de uma só mão, os membros do mesmo corpo" e, desde então, essas palavras ficaram em minha mente. Entendo-as pensando que se tenho dor num braço, o equilíbrio de todo o corpo será alterado e o outro braço faz um esforço acrescido para manter o equilíbrio, como que ajudando o primeiro até que ele se recupere; e, por isso, será igual para o género humano! Com uma diferença: enquanto houver pessoas, mundo afora, que sofram por alguma forma de opressão, preconceito, ódio, genocídio ou qualquer outra dessas doenças que afligem o nosso mundo, não só é nossa função ajudá-los até que se reestabeleça esse equilíbrio, como deveria ser o nosso objetivo diário ajudar, de alguma forma, a que esse equilíbrio se reestabeleça.

Por que uma blogagem coletiva?
As blogagens coletivas existem, há pelo menos, um ano. Quando pela primeira vez ouvi falar do tema foi através do Lino Resende (outro blogger) e achei que isso só poderia ser a prova que a internet tem um impacto incomparável. Quando há cento e cinquenta anos atrás chumbo derretido era derramado garganta abaixo dos bábís, na Pérsia, ou há cinquenta anos atrás o nazismo começava a dizimar em câmaras de gás judeus, ciganos e pessoas rotuladas com "inútil", não havia Internet! Imagine o que teria acontecido se houvesse Internet e se houvesse blogs! Os povos do mundo teriam bradado pelos direitos dessas pessoas: o genocídio arménio na Turquia ou a morte de milhões de pessoas nos campos de concentração poderia ter sido impedido se uma pessoa tivesse anunciado em seu blog o que estava acontecendo. Imagine então a força que teriam cem pessoas juntas, em blogs de diversos países e em diversos idiomas. Imagine a força que essas pessoas juntas poderiam ter. Esses dedos da mesma mão, trabalhando juntos...

Quantas pessoas participaram da iniciativa, em quantos países? A campanha atingiu a repercussão esperada?
Eu decidi não criar expectativas, mas estabeleci uma visão, uma meta: o limite mínimo de cem pessoas. Confesso que houve momentos que achei difícil chegar lá, mas o Lino e outros bloggers iam me encorajando e a campanha, naturalmente, foi avançando, até ao próprio dia, no qual, de repente, houve uma explosão e mais umas quarenta ou cinquenta pessoas anunciaram presença. Entretanto, através de motores de busca fui descobrindo que havia pessoas que participaram, mas que, por algum motivo, não estavam inscritas. Ou seja, apesar do número oficial ter sido 101 blogs, de 12 países, e três idiomas, acredito que houve mais participantes que eu posso nem ter notado. É assim que a informação funciona: houve quem simplesmente participasse da campanha, sem saber que era uma "blogagem coletiva". Mas o importante é mesmo isso e, infelizmente, é só isso que se poderia fazer: aumentar o nível de consciência das pessoas. Se a campanha atingiu a repercussão esperada? Havia quem nunca tivesse lido a Declaração Universal dos Direitos Humanos, ou quem nunca tivesse pensado que direitos, deveres e oportunidades deveriam ser coadunados, ou quem nunca sequer ponderasse a necessidade de apoiar determinados grupos ou pessoas. Só o fato de se ter levantado a ponta do véu e ter feito algumas pessoas pensarem sobre algumas coisas já foi para além de tudo que eu pudesse esperar.

A campanha já foi realizada em algum outro ano, ou será realizada novamente este ano?
Não, é a primeira vez que o fizemos. A blogagem surgiu este ano, depois de muito pensar sobre a sua viabilidade. Eu sou aquilo que se pode chamar "verde" nos blogs. Tenho um amigo (Vítor Sousa) cujo blog conseguiu impulsionar a candidatura da pessoa que ficou em segundo lugar nas últimas eleições presidenciais portuguesas, mas eu, com um blog com pouco mais de um ano de vida, não poderia sequer esperar eleger uma caixa de cereais como a melhor da mercearia do lado (risos).
Mas, entretanto, notei a nobreza das pessoas no exemplo do Blog Action Day, organizado por um australiano com quem partilho uma visão bastante semelhante do mundo, vi que há temas que movem e motivam as pessoas, há temas que nos tocam a todos! No caso do Blog Action Day o tema era o ambiente, e no caso Um Mundo, Uma Vida eram os Direitos Humanos.
A experiência deste ano provou que as pessoas se interessam pelos seus Direitos. Por isso mesmo, pondero seriamente experimentar uma nova campanha neste novo ano. Em que moldes? Ainda não sei, mas muito provavelmente, se for o caso, será revisto.

Você acha que a blogosfera se preocupa o suficiente com a situação dos direitos humanos, ou ainda há muito o que fazer com relação à temática?
Dói-me saber que ainda há um longo caminho a seguir! Ainda não aprendemos a nos preocupar com o nosso irmão humano que é preso e torturado no Irã por ser bahá'í, morto na Somália, aquela nossa irmã injustiçada na Arábia e por aí em diante... Ainda não chegamos àquele ponto em que nos vemos como gotas do mesmo oceano...
Parece-me que a blogosfera -- e refiro-me apenas àquela que é dotada de uma real blogoconsciência -- é, como quase tudo, um mundo de modas: as pessoas querem seguir o rebanho e discutir a democracia na Venezuela, os erros cometidos no Iraque, a liberdade de imprensa na Rússia; mas quando o Egito, que é um dos responsáveis pela manutenção dos DH em sede das N.U., tem comportamentos miseráveis nesse campo, me pergunto: quantos blogs de língua portuguesa falam disso? Ou, quando houve a cimeira entre a União Europeia e a África, em Lisboa, e se debateu a polemizada vinda de Qadafi, quem se levantou para falar da situação na Somália? Falou-se do Darfur, o que já é um excelente passo, mas o Darfur é a segunda maior tragédia humana do nosso século e poucos de nós sabemos qual é a primeira! Fala-se do Paquistão agora, por causa das eleições e da morte de Bhutto, mas e antes? Fala-se agora no Burma, por causa das manifestações, mas e antes? Os povos dessas nações estão oprimidos há anos, mas só hoje as pessoas mostram interesse; aliás, nem sei se interesse ou curiosidade...
O que essa campanha pelos Direitos Humanos, através da internet e dos blogs, mostrou foi que há, algumas pessoas que se interessam. Pessoas que demonstram ter uma consciência para além das suas realidades pessoais, que pensam para além da política local, regional ou nacional, e que acreditam que a Terra é, deveras, um só país e que nós todos podemos ser cidadãos ativos e conscientes desse único país. Acredito que para além dessas cem pessoas, haja outras mais e que nós todos juntos, unidos na diferença, poderemos mudar o mundo. Passo a passo isso poderá acontecer, dentro e fora da Internet.

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6 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Parabéns, Sam.
Este é o resultado do envolvimento com assuntos sérios, interessantes e imortantes, feito de maneira também séria.
Você merece todas as honras.

beijos

14 janeiro, 2008 02:31  
Anonymous Anónimo disse...

Participei da blogagem e estarei pronta pra qualquer chamado em prol da humanidade.
um beijo!

15 janeiro, 2008 23:52  
Blogger Juca disse...

Oi, Sam! Tudo em paz?

Bom, vou deixar um comentário que não tem nada a ver com o post. Mas prometo que depois volto para comentá-lo decentemente.

É que vim aqui trazer uns "presentinhos" pra ti: são quatro selos: dois selos da Amizade, um selo Blog Cabeça e um selo "Diz que até...". Este último, como disse lá no post, é opcional. Espero que os aceite, é de coração! Claro que pelo seu belíssimo trabalho em prol dos direitos humanos mereceria um reconhecimento maior, mas saiba que o admiro e o respeito. Quando puder, dê uma passada por lá.

Abração!
Juca

17 janeiro, 2008 20:07  
Blogger Andréa Motta - Conversa de Português disse...

Parabéns, Sam! Quando decidimos usar esse mundo virtual para falar de coisas sérias, as pessoas vêem o resultado de nossas reflexões e nos admiram por isso. Por essa razão, deixei presente pra você lá no meu blog! Um abraço!

07 fevereiro, 2008 17:07  
Blogger Sharon Wood disse...

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12 abril, 2019 05:53  
Blogger Dale Morris disse...

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26 abril, 2019 05:38  

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