sábado, maio 17, 2008

Acordo Ortográfico (3 de 3) - ser a favor é entender o passado e sentir o futuro

A favor do acordo
Estou feliz com a aprovação do Acordo em Portugal! Bem, na realidade, pelo voto ratificativo que permitirá a Portugal manter a sua posição de catalisador da unidade idiomática portuguesa.

Se não fosse aprovado, a pergunta de Carlos Reis (professor de literatura) estaria ainda ecoando em nossos ouvidos: “Portugal deveria manter-se preso a uma abordagem conservadora da pronúncia, como se fosse o último bastião da identidade portuguesa?. O património é de um povo vasto e espalhado por quatro continentes ou de exclusividade de certos doutos que se recusam em ver o idioma evoluir, da mesma forma que no século XIX dizia-se que a ciência não poderia mais evoluir? Não! A Assembleia da República Portuguesa deu a sua resposta, apesar de todas as polémicas.

José Saramago (único Prémio Nobel de literatura em português) diz que “Temos que superar essa ideia de que somos os donos da linguagem”, pois “Os donos da linguagem são os que a falam, para o bem ou para o mal”.

Afinal de contas, o português é a terceira língua ocidental mais falada, após o inglês e o espanhol. A ocorrência de ter duas ortografias atrapalha a divulgação do idioma e a sua prática em eventos internacionais. Sua unificação, no entanto, facilitará a definição de critérios para exames e certificados para estrangeiros e ser contra ele é não entender Fernando Pessoa, aquele ídolo da literatura portuguesa, tão citado neste aceso debate que poderia dar uma guerra civil se fosse há uns anos atrás, quando, em 1931 escreve sobre o I Acordo (sim houve outro e aqueles que eram/são contra quase nem se lembravam) de 1911 que finalmente entraria em vigor:

Odeio (…) não quem escreve em orthographia simplificada, mas a pagina mal escrita, como pessoa propria, a syntaxe errada, como gente em que se bata, a orthographia sem ipsilon, como o escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse.

Sim, porque a orthographia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da translitteração greco-romana veste-m’a do seu vero manto regio, pelo qual é senhora e rainha.

Tão aguardada senhora e rainha a ver quando chegas! Daqui a 6 anos em Portugal? Que assim seja... a aguardaremos.

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5 Comentários:

Blogger João Moutinho disse...

Uma das razões porque sou a favor do acordo ortográfico é que Angola a adoptar uma ortografia há de ser a brasileira, até por todos os tratados de medicina, agricultura ou outros.
Além de que têm uma História comum(o Brasil enquanto parte integrante do Império tinha relações directas com Angola).
É natura que Moçambique e os restantes países africanos e mesmo Timor seguíssem o exemplo. Assim, restaria o último reduto do "verdadeiro" português neste canto da Europa.

17 maio, 2008 17:10  
Blogger Ricardo Rayol disse...

Aqui no Brasil a coisa vai bem pelo que sei. Se quiser usar o Indignatus fique a vontade.

17 maio, 2008 23:01  
Anonymous Anónimo disse...

Por aqui o que se comenta é que o português verdadeiro era aquele de Camões. Mas dele todo nos afastamos, tal como uma caravela que vai em direção ao alto mar em busca de novos mundos, novos horizontes. Viva a navegação. Viva também nossas origens e de nossos antepassados. Viva o acordo ortográfico que trará mais integração entre os povos de língua portuguesa.

21 maio, 2008 16:26  
Blogger Vitória disse...

Com certeza...os donos da língua são os que a falam...concordo completamente com o acordo e este post.Sou professora de Português.

09 junho, 2008 20:05  
Blogger Graza disse...

Vou voltar com mais tempo para ler o que aqui tão bem se escreve sobre o Acordo.

Uma curiosidade: acabo de ler essa página do Livro do Desassossego.

25 junho, 2008 20:14  

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