sexta-feira, agosto 22, 2008

O Cavaleiro Negro em cada um

No início da semana, um amigo e leitor do blog perguntava-me se havia visto o Dark Night e hoje lhe respondo que não só vi, como acho que posso ter percebido quem era o Cavaleiro Negro.

Muito tem-se falado sobre quem poderia ser essa figura. Os blogs da Psychology Today são claros exemplos ao dizerem que Batman estava perdido ao oscilar entre o herói e o anti-herói, ou que o filme diferencia caos (Joker), ordem (Batman) e sorte (Two Faces) ou mesmo que o Joker era o verdadeiro Cavaleiro Negro, uma vez que ele e o Batman precisam um do outro para viver, talvez como a relação entre a luz e as trevas, a ordem e o caos.

Verdade seja dita, o vegetariano e ativista dos direitos dos animais Christian Bale (cuja carreira acompanho desde que ambos eramos crianças, em O Império do Sol) foi muito bom no seu personagem de Batman; os irmãos Nolan conseguiram, sem sombra de dúvidas, criar um ambiente obscurecido que penetra a mente do espectador, construindo nervosismo a cada cena de calma; e, assim deram espaço a que Ledger em sua fabulosa e derradeira performance nos servisse de “doloroso lembrete da fragilidade da vida, também presente”.

O filme nos recorda que ou morremos heróis ou vivemos o suficiente para nos vermos no papel de vilões. Isto porque o ser humano vê, ante si, dois caminhos: o caminho da perfeição e o caminho da aceitação.

Batman, o Cavaleiro das Trevas, estava a caminho da perfeição, mas não aquela dos deuses do Olimpo, mas do homem que quer ser perfeito e, assim, a cada tentativa se frustrava, a cada passo via o contrário: entrava na profundeza da treva do desagrado crónico, aonde a busca da perfeição faz-se doentia.

Temia, na realidade, olhar para si e ver-se incapaz de poder tudo. Olhava dentro de si e achava encontrar um monstro e não um herói e, por mais que tentasse agradar aos demais, mais os outros lhe traíam, mais ele mesmo se traía.

Foi na presença do seu arqui-inimigo que o Cavaleiro das Trevas compreendeu que reconhecer os seus próprios limites (que durante tanto tempo tentou evitar) não é símbolo de mediocridade, mas de grande valor. O psicólogo Ricardo Peter diz que “a obrigação de viver a toda velocidade, de destacar a todo custo, leva-nos à depressão e, nos piores casos, ao ódio a nós mesmos”. Diz também que é necessário:

Superar a separação que me impõem os meus limites e encontrar-me a mim mesmo, aos demais e à vida. Deixo de me recriminar, atormentar e viver em função dos erros dos demais, como se o sentido de minha vida consistisse em ser caçador dos erros e dos afetos alheios e dos males do mundo.

E será que Batman foi ou será, algum dia, capaz disso? Veja o filme e me diga.

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4 Comentários:

Blogger Isaias Edson Sidney disse...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

23 agosto, 2008 19:45  
Blogger Ricardo Rayol disse...

gostei da resenha

25 agosto, 2008 16:47  
Blogger AlmaAzul disse...

Brilhante!
Agora vou ter de re-ver o filme com ostros olhos! :P

Bjs

26 agosto, 2008 21:16  
Anonymous Anónimo disse...

Putz, gostei de mais da visão que teve do filme. Como fã do Batman e todo seu universo, tenho que lhe dizer que gostei do que disse.

23 setembro, 2008 13:42  

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