sábado, janeiro 24, 2009

Restaurante chamado Tradição

No outro dia fui a um restaurante ao qual, dias depois, uma amiga o intitulou de restaurante, típico, conservador e tradicional. E hoje, ainda não sei como é que termos como “conservador” e “tradicional” podem ser aplicados com tom político a um restaurante!

Mas a verdade é que o restaurante iraniano (diferente de persa) tinha uma das instalações sanitárias mais sujas que eu havia visto em toda a minha vida num estabelecimento do género. Faltava papel higiénico e sabonete, a pia estava imunda e o chão tinha água e mais água (espero que tenha sido água)! E, um funcionário lá se encontrava: um jovem, não muito mais velho que eu, de luvas, sobre os joelhos, tentando limpar parte da imundície de um dos vasos sanitários. Ao trocar algumas palavras com ele, compreendi que o seu persa não era o persa típico de um iraniano. Perguntando-lhe de onde era, respondeu, sorrindo, como que feliz por finalmente alguém trocar dois dedos de conversa com ele, que era afegão.

Aí, então, compreendi o “conservador” e “tradicional”. É comum, no Irã de hoje, que os imigrantes afegãos sejam tratados como subhumanos, sem muitos direitos e com muitos deveres. Aliás, foi também pela defesa das crianças afegãs e dos seus direitos básicos que Shirin Ebadi ganhou o seu Nobel da Paz.

Então, penso, se ser conservador é determinar a função de uma pessoa com base na sua origem étnica e nacional, quero distância dessa ideologia! Acho que já é tempo de ultrapassarmos essas barreiras e nos vermos a todos como irmãos humanos, cada um podendo desempenhar as suas funções (claro), mas com condições mínimas de dignidade e não de joelhos sobre as fezes de outro que se considera tão superior que nem a descarga puxa…

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Aviões são provas da existência da alma
Faz como eu escrevo, mas não faças o que eu faço...
O Direito a ser bem atendido
Para quando a lua cheia?

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1 Comentários:

Blogger Tatiana Barros disse...

O mais interessante no salto, é o olhar. Frente ao que é direito, de Direito e Humano.
Como a maioria dos acontecimentos que nos instiga, aflora inevitavelmente do instinto, referencial cultural e valores que manifestamos em poder de ação, essas brilhantes linhas me remetem a uma observação preciosa acerca da simbologia antropológica do comer, em que dedico parte de minhas "refeições diárias".

Aqueles que vêem a comida primeiramente com seus olhos e degustam com os olhos do mundo, conseguem enxergar à parte do prato, detalhes cruciais ao redor de um banquete social. São capazes de sucumbir, inconscientemente, seus maiores desejos culturais alimentares, em favor dos signos humanitários. Seria por exemplo, a não conexão de identidade cultural de bom arroz persa em um restaurante persa, a um ""iraniano"", quando a cozinha está imunda.

A cada dia me convenço que a melhor sensação de comer bem é o que nos alimente, de fato. E nesse contexto, a comida em si, nem sempre será o mais importante.
Meu estômago agradece a digestão feliz de olhares comensais, que como este, identificam e verbalizam por meio de "papel, sabonete, luvas, água, palavras" e muitos outros elementos correlativos, o contexto social do DH antes mesmo de sorver a primeira garfada ao ego e comentar detalhes de uma culinária gastronômica, sem grandes fins. Quando o que mais importa em relacionar "dignidade" com "joelhos", REALMENTE é ultrapassar a merda tradicional e conservadora que corrompe e viola os Direitos Humanos.
Boa Sam! Vou adicionar sua reflexão à minha tese. Merci.

08 fevereiro, 2009 02:54  

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