terça-feira, janeiro 30, 2007

Quero PAZ!!!


A falta de unidade é um risco que as nações e os povos da Terra já não podem mais suportar; as conseqüências são demasiado terríveis para poderem ser contempladas, demasiado óbvias para requererem qualquer demonstração. "O bem-estar da humanidade", escreveu Bahá'u'lláh há mais de um século, "a sua paz e segurança, são inatingíveis a não ser que, e até que, a sua unidade seja firmemente estabelecida".
Ao observar que "toda a humanidade está gemendo e ansiando por ser conduzida à unificação, e assim terminar o seu martírio secular", Shoghi Effendi acrescentou ainda que "a unificação da humanidade inteira é a etapa distintiva da qual a sociedade humana atualmente se aproxima.

cit. in A Promessa da Paz Mundial (1986)

Sendo hoje o Dia Internacional da Não Violência, eu não poderia ter ficado impávido perante a blogagem colectiva iniciada no Brasil por Lino Resende e apoiada por Carlos Emerson Jr. (entre outros).

A desintegração mundial é cada vez mais iminente. O que antes parecia a neutralidade e o desprezo de umas nações perante outras se tem convertido, como que alquimicamente, noutra realidade.

Há cerca de um mês, Washington Araújo, explicou muito bom a relação destes dois fenómenos - a integração e a desintegração - através das seguintes palavras:
Entendo que existem dois processos atualmente em marcha. Um é de desintegração e outro de unificação. O primeiro é marcado pelas guerras, pela miséria e pela fome, pelo descaso com a saúde e a segurança públicas e outraz tristes realidades. O segundo, faz menos estardalhaço. É que traz à luz iniciativas de governos e de organismos não-governamentais visando o aumento de inclusão social, a diminuição da mortalidade infantil, o acesso irrestrito à educação. Mas são processos que caminham lado a lado.

Ao mesmo tempo que vemos o mundo a sofrer por guerras infrutíferas, ao mesmo tempo que vemos a fome e a miséria na África, as perseguições religiosas no mundo islamo-árabe, a xenofobia no mundo "ocidentalizado", damo-nos conta que é necessária a integração de todos os povos e culturas, que as religiões são dotadas da função unificadora, que o ser humano deve ser apoiado nas suas necessidades mais básicas e que a paz é a meta, para a qual, inevitavelmente iremos chegar.

São duas linhas paralelas que correm: a linha da destruição e a linha da construção. Creio que chegará o dia em que, as linhas se convergiram numa só e a Paz Máxima será atingida!

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terça-feira, janeiro 23, 2007

Rumi - Divan Shamsi Tabrizi

Escuta a flauta e como ela conta um conto, lamentando a separação:

Dizendo, “desde que me cortaram do canavial, meu lamento fez lamentar o homem e a mulher.

Quero um peito que chore pela separação, para que nele verta a dor do desejo-amor.

Tudo o que se afasta da origem deseja volver no tempo para quando com ela era uno.

Em toda companhia atesto minhas lamentações. Me associo com os que entristecidos e com os rejubilantes.

Jalálu’d-Dín-i-Rumí (1207-1273) in Mathnavi (livro 5).
Trad. por Sam, a partir do inglês de
R. A. Nicholson, Selected Poems from the Divan Shamsi Tabrizi.

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domingo, janeiro 21, 2007

Quando o medo se converte em livro

Quando as espadas cintilam, avança!
Quando voam os dardos, segue avante!
Bahá'u'lláh (1817-1892)
in Epístola do Fogo.
Trad. para o português pela Editora Bahá'í do Brasil.
Quando vivemos sob um idioma como o português, onde cada átomo do pensamento tem uma palavra própria, onde cada movimento milimétrico da emoção se assume sob outro termo, pessoas de índole interventiva e livres pensadores se convertem em seres indomáveis e inabaláveis em seus pensamentos.

Vítor é um desses casos. Congruente entre actos e ditos, consciente de suas limitações e capacidades, coerente na escrita, ciente de onde veio e aonde pode ir. O Vítor e eu nos entendemos! Naquilo que muitos chamam de preciosismo, naquela aura de meticulosidade, naquele espírito de análise milimétrica de sentidos e significâncias já não és meu afilhado, Vítor, és meu irmão.

Sabes que júbilo é uma emoção e que festa é uma acção. Sabes que a alegria é um estado passageiro e que a felicidade é o estado derradeiro. E é isso que te torna especial! Falta-te descobrir que todos somos taciturnos, mas a taciturnidade não está no nosso imo. Da mesma forma que o mal é a ausência do bem e que a fome é a ausência de alimentação, a melancolia é a ausência do júbilo e a tristeza é a ausência de felicidade.

Não lamentes se algumas mentes ébrias não compreendem a sobriedade de tuas palavras, nem tampouco esperes que te aceitem ao primeiro intento. É a volição que te ergue sobre os demais, não a mesquinhez ou o egocentrismo. O que te faz único é essa humildade que te domina: reside nela, mas não a deixes dominar-te! A humildade de quem sabe que há outros melhores: habita nela! Foge daquela humildade que te dá a entender que és o pior de todos.

E, se não conseguires deixar a tua marca e os nós do teu tricot forem desfeitos pela efemeridade do tempo, sabe tu, concerteza, que os valores vivenciais, estes sim, sobrepõem os limites do espaço e do tempo e que estas amizades que unem as almas dos homens mantém-se ad aeternum.

Que o teu primeiro livro seja o teu primeiro passo para o renascimento! Que o
Tricot do Tempo seja uma memória no teu horizonte e seja mais um pilar sobre o qual possas estabelecer a tua existência!

Tricoteia meu amigo, tricoteia com o tempo.

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quinta-feira, janeiro 11, 2007

O renascimento do Fênix

O meu amigo Carlos Emerson Jr., um intervencionista convicto, certa vez perguntou-me “o que vão fazer com Fênix quando ela renascer?”.

A pergunta é boa: é pensada e serena, da mesma forma que ele gosta de agir. É também resumida. O único problema é que é difícil explicar o renascimento dum ser que se queima e que renasce a partir das suas próprias cinzas, um ser que é o mesmo que sempre foi – na sua imutabilidade que lhe preserva a identidade – e que a cada renascimento consegue mudar para melhor – na sua elasticidade de organismo vivo que se sabe adaptar às exigências e necessidades da sociedade na qual renasce.

Shoghi Effendi, politólogo por Oxford e Guardião da Fé Bahá'í, afirmou sob o título O Fogo de uma Tribulação Severa algo que se pode aplicar aos cidadãos da doce Feníxia:

Nada a não ser uma provação flamejante, da qual a humanidade emergirá, purificada e preparada, conseguirá implantar aquele senso de responsabilidade que os líderes de uma era recém-nascida deverão erguer sobre seus ombros.

Vivemos todos, sem nos apercebermos, nessa nova era, onde a crise é sucedida por vitória, onde só as coisas são refeitas só depois de estragadas, onde o Fênix só se recria depois de se destruir.

Os valores humanos só renascem quando pisados em todo o lado! A vida só será vivida quando soubermos o que ela é...

A Feníxia se converte assim no local onde os valores da ciência e da religião se convergem e onde os sinais de extremismo de falsas religiosidades ou pseudo-ciências se desvanecem. Os cidadãos de Feníxia vivem num mundo onde tais dicotomias seriam artificiais e onde, mais uma vez, Shoghi Effendi (desta vez em A Idade Áurea…) afirmaria que a postura não seria “eclética na apresentação de sua verdades, nem arrogante na afirmação de seus postulados. Seus ensinamentos gira[ria]m em torno do princípio fundamental de que a verdade religiosa não é absoluta, mas relativa, que a Revelação Divina é progressiva, não final”.

Um fênix, um verdadeiro Fênix, quando renasce de suas cinzas dá o primeiro e derradeiro passo para a compreensão de que as várias visões são “idênticas em seus objetivos, complementares em suas funções, contínuas em seus propósitos, indispensáveis em seu valor para a humanidade”.

Pois esta é a saga de Feníxia: a caminhada na senda da compreensão e do progresso físico, mental e espiritual!

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quarta-feira, janeiro 03, 2007

Há quinze anos guardando amigos e guardando cidadania...

Amigo é coisa para se guardar
Debaixo de 7 chaves,
Dentro do coração,
assim falava a canção que na América ouvi,
mas quem cantava chorou ao ver o seu amigo partir,
mas quem ficou, no pensamento voou,
o seu canto que o outro lembrou
E quem voou no pensamento ficou,
uma lembrança que o outro cantou.
Amigo é coisa para se guardar
No lado esquerdo do peito, dentro do coração
mesmo que o tempo e a distância digam não,
mesmo esquecendo a canção.
O que importa é ouvir a voz que vem do coração.
Seja o que vier,
venha o que vier
Qualquer dia amigo eu volto pra te encontrar
Qualquer dia amigo, a gente vai se encontrar

"Canção da América"
cantado por Os Paralamas do Sucesso
e composto por Milton Nascimento.

Faz hoje 15 anos que deixei a América, o continente do "novo mundo" na dúvida sobre o retorno, na saudade estampada no sonho do regresso. Quinze anos que se multiplicam por séculos quando penso nos amigos deixados para trás, na infância perdida, na diversão de ser um cidadão-mirim. Quinze anos divididos em meros segundos investidos na minha adolescência e juventude, no meu presente e na minha profissão.

Se ainda por lá como seria? Cada decisão da vida nos leva à decisão seguinte, numa nova oportunidade de encontrar sentido, de ganhar autonomia, de nos tornarmos mais plenos enquanto seres humano. Não teria os amigos que tenho hoje (teria outros), não trabalharia onde quero trabalhar (noutra profissão poderia estar), talvez até tivesse passado no vestibular há pouco tempo (e não com dois diplomas na mão...). Mas, ainda assim seria eu!

Hoje, apesar das dificuldades que qualquer estrangeiro sente, sinto-me cidadão não de Portugal mas da Europa. Aqui encontrei um continente que se assume como entidade orgânica à procura de sentido, sem saber como crescer, sem saber como integrar tantas diferenças, sem saber como fazer... A Europa de hoje tenta desprender-se daquela Europa que oscila entre o conservadorismo e o excesso de liberalismo: é a Europa da renovação cultural e social; é a Europa da integração; é a Europa da União!

Da Europa absorvo as bases do conhecimento ocidental, da Europa retiro a pluralidade linguística, com a Europa encontro o futuro da unidade na diversidade. Mas também lá, nas Américas encontrei o sonho idealitário do progresso e da expansão, encontrámos a inovação, a capacidade de refletir e criar o novo; lá também temos o pluralismo e o integracionismo funcional e real, e não o teórico e o regulamentado.

Por isso, ao mesmo tempo que me sinto cidadão europeu, sinto-me também cidadão americano (e até, de certa forma cidadão asiático). Aprendemos meia-dúzia de línguas numa vida, passamos por uma dezena de países do mundo, conhecemos pessoas de meia centena de países por ano e, certamente, não somos os mesmos que eramos mediante as decisões anteriores, ou quinze anos antes!


A humanidade caminha, a passos largos (mas também firmes), para aquela posição na qual concerteza, não mais nos vangloriaremos por sermos cidadãos deste ou daquele país, deste ou daquele continente, aceitaremos que cada um de nós exerce o seu papel neste jardim que só é belo por ser multicolorido, neste jardim que é um só país chamado Terra!

Quinze anos depois, obrigado aos meus amigos que me levam a ser um cidadão em plenitude, um cidadão da Terra!

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