A liberdade ao estar preso
Mas, o que me chamou a atenção foi quando, logo no início, se mencionou que o evento estaria a ser transmitido para a prisão municipal da cidade! Nunca pensamos em compartilhar uma sala com presidiários, não é? Sejamos francos: a maioria de nós pensa que devemos estar longe deles. Contudo, estava eu, a compartilhar um espetáculo de primeira com eles. Uma honra que poucos terão notado!
E porquê? Bem, é aqui que as palavras da minha amiga Valentina Capecci, psicóloga italiana residente em Espanha, ecoam em minha mente:
Nesse texto que estava para ser publicado na falecida Psicologia Actual, ela relembra que "a dignidade de um homem não se perde por ter cometido um delito; a dignidade de um homem tem de ser respeitada, sempre", pois, afinal de contas, deve haver um sistema prisional dotado de critério de individualização.
Afinal de contas, são seres humanos que "pelo simples facto de terem falhado uma vez não significa que devam ser condenados o resto da vida a carregar nas costas o peso do erro que cometeram".
O principal objetivo do meio prisional não deve ser o de retirar a liberdade do sujeito, senão de acompanhá-lo a uma devida reinserção social, contudo, limites estruturais, falta de pessoal, questões de segurança e outros tornam "impossível a preparação de programas de tratamento individualizado que permitam intervir eficazmente sobre as reais problemáticas da população detida", fazendo da prisão um mero armazém "de marginalização e exclusão que afecta sobretudo os sujeitos já enfraquecidos".
Na realidade, criamos mais problemas do que soluções. O problema não é um problema da sociedade como uma estranha figura abstrata. É dos familiares do preso. É do preso que quer ter novas oportunidades. Investe-se em tantos campos, em artifícios legais e jurídicos e políticos que são alterados, mas raras vezes, ou nunca até, se pensa que este é, nada mais nada menos que, um caso de cidadania.
E é por isso, pela atenção, ainda que mínima de hora e meia que foi dada aos cidadãos que residem no centro de detenção de Faro (dos quais conheço nem um), louvo a iniciativa!
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Ivan Lins no CCB
Police: melhor do que nunca!
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