quarta-feira, outubro 29, 2008

A liberdade ao estar preso

Semana passada fui ao show do Ney Matogrosso no Teatro Municipal de Faro, uma cidade na qual raras coisas ocorrem e quando há algo, todos correm para ir! Para, quando lá chegam, ficarem em suas cadeiras, no máximo balançando alguns dedos, ou batendo palmas entre músicas. É a forma de ser das pessoas que aí estavam. Nada a ver com a animação de um show concorrido num estádio. E diga o que disser em suas entrevistas, acho que estando a uns parcos metros (um? dois?) do cantor, posso afirmar que a sua mirada parecia procurar alguém no público que o acompanhasse na sua animação incomparável de quem só é ultrapassado em jogo de cintura pela bela Shakira.

Mas, o que me chamou a atenção foi quando, logo no início, se mencionou que o evento estaria a ser transmitido para a prisão municipal da cidade! Nunca pensamos em compartilhar uma sala com presidiários, não é? Sejamos francos: a maioria de nós pensa que devemos estar longe deles. Contudo, estava eu, a compartilhar um espetáculo de primeira com eles. Uma honra que poucos terão notado!

E porquê? Bem, é aqui que as palavras da minha amiga Valentina Capecci, psicóloga italiana residente em Espanha, ecoam em minha mente:

Alguém afirmou que a prisão é o espelho da sociedade, faz parte dela e “a civilização de um país também se mede através do grau da civilização das suas próprias prisões” (Mazzella, 2001). Considerar esta estrutura como estando separada da sociedade não tem qualquer valor; assim como fechar os delinquentes e deitar fora a chave também não o tem.

Nesse texto que estava para ser publicado na falecida Psicologia Actual, ela relembra que "a dignidade de um homem não se perde por ter cometido um delito; a dignidade de um homem tem de ser respeitada, sempre", pois, afinal de contas, deve haver um sistema prisional dotado de critério de individualização.

Afinal de contas, são seres humanos que "pelo simples facto de terem falhado uma vez não significa que devam ser condenados o resto da vida a carregar nas costas o peso do erro que cometeram".

O principal objetivo do meio prisional não deve ser o de retirar a liberdade do sujeito, senão de acompanhá-lo a uma devida reinserção social, contudo, limites estruturais, falta de pessoal, questões de segurança e outros tornam "impossível a preparação de programas de tratamento individualizado que permitam intervir eficazmente sobre as reais problemáticas da população detida", fazendo da prisão um mero armazém "de marginalização e exclusão que afecta sobretudo os sujeitos já enfraquecidos".

Na realidade, criamos mais problemas do que soluções. O problema não é um problema da sociedade como uma estranha figura abstrata. É dos familiares do preso. É do preso que quer ter novas oportunidades. Investe-se em tantos campos, em artifícios legais e jurídicos e políticos que são alterados, mas raras vezes, ou nunca até, se pensa que este é, nada mais nada menos que, um caso de cidadania.

E é por isso, pela atenção, ainda que mínima de hora e meia que foi dada aos cidadãos que residem no centro de detenção de Faro (dos quais conheço nem um), louvo a iniciativa!

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Ivan Lins no CCB
Police: melhor do que nunca!

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domingo, outubro 26, 2008

Uma grande aventura

Um ano depois, muitas cartas trocadas e nada resolvido, a não ser o facto de poder contar a história sem me irritar. Justamente hoje, faz um ano que estive querendo regressar do Congresso de Logoterapia em Roma, estive querendo simplesmente porque não me deixaram.

Ao comprar a passagem da TAP no trajeto Faro-Roma, via internet, ao trocar a passagem no Aeroporto, ao falar com funcionários da linha telefónica de apoio, foi-me sempre confirmada uma ida em Outubro e um regresso uns dias depois, no mesmo mês de Outubro. Lá fui ao congresso, conheci pessoas fantásticas como Maria José Dinis (de Portugal), Alejandro de Barbieri (do Uruguai), Thiago Avellar de Aquino (do Brasil) e Alexander Batthyany (da Áustria), revi bons amigos como Leticia Ascencio (do México) ou María Angeles Noblejas (de Espanha) e fiz a minha apresentação sobre o papel que a logoterapia pode desempenhar no apoio a populações imigrantes.

No último dia almoçámos todos juntos e, após algum tempo, a Mª Angeles, o Alejandro e eu fomos ao Aeroporto Fiumicino aonde cada um iria pegar o seu voo. Fui ao meu check-in da TAP, a menina ficou resmungando em italiano ma non cé?! até que… entendeu! O meu voo de regresso era para Novembro e não para Outubro?! Aparentemente os meus contactos pessoais e telefónicos com a TAP não foram o suficiente para que eu fosse informado que o regresso estava equivocadamente agendado para outro mês. Eu dizia “então, o meu regresso é para tantos de Outubro, certo?”, mas poderia estar a perguntar por qualquer outra coisa, aparentemente, pois a resposta era sempre “sim”. O erro pode ser meu, alguns dirão. Mas, mas, mas… o sistema da TAP é que não assumia que uma pessoa ficasse três dias num local, alterando, por conta própria a data do regresso para o mês posterior (em Novembro estava previsto outro congresso em San Sebastián e quando fui ver o preço da passagem o site voltou a aceitar o meu regresso para Dezembro, quando queria regressar três dias depois!).

Pois bem, não pude entrar no voo da TAP, apesar de estar quase vazio. Então lá fui à cata de outras companhias, ao que encontrei uma dessas meio desconhecidas que voava, no dia seguinte, para a capital do país ao lado do meu, Madrid. Com uma noite sem dormir, sem dinheiro, com o celular quase sem bateria fui cinco horas antes do voo à procura do check-in. A fila já era interminável! Quando começou a funcionar, só via o pessoal à minha frente voltando atrás, insultando o funcionário que se tentava desculpar. Vi a minha passagem que dizia algo como só poderemos confirmar a sua aquisição dentro de 48 horas. Entrei em pânico! Mas lá consegui fazer o check.

À medida que ia para a zona de embarque vi filas de pessoas se manifestando. Em frente à Air France já havia organizações de protestos devido à não autorização massiva de embarque. Temia que, de repetente o meu voo também fosse cancelado.

Ao entrar na zona de embarque, a primeira coisa que ouvi foi uma voz no altofalante dizendo “os voos de hoje poderão ser cancelados devido ao mau tempo”. Só o que me faltava. Fui ao local de embarque, a minha companhia nem parecia existir. Descobri, quase por acidente, que se encontrava noutro local que não o previsto.

Finalmente, a muito custo, saio de Roma, chego a Madrid, procuro a Ryanair para pegar o voo Madrid-Faro mas (sim, mais um mas) e sou informado que há não mais, não menos que uma semana que esse trajeto foi cortado! O cosmos conspirava contra mim.

Fui de metro até a estação da Renfe (imagem ao lado), peguei o Alta Velocidad e lá cheguei a Sevilla 200 km de casa). E lá implorei aos meus pais que me fossem buscar, pois não podia mais.

Escusado será dizer que a TAP não assumiu o erro do seus sistema, não restitui o dinheiro, não assumiu responsabilidade pelos funcionários que respondem sem ouvir e ainda me disseram, numa primeira carta que “nesse contestoo meu voo “Lisboa-Milão” estava correto!

E, para mais, o meu horóscopo num desses jornais gratuitos que circulam Roma, dizia, naquela fatídica segunda-feira:

Hoje, tem ante si uma grande aventura!

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Chegar a Roma, passar por ela, pensar nela...

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quarta-feira, outubro 15, 2008

Dia de Ação Blogal: pela eliminação da pobreza Global

Há algum tempo atrás, a Organização Internacional do Trabalho revelou que o crescimento de 5% de PIB mundial não é suficiente para impedir o aumento do desemprego para quase 190 milhões de pessoas (aproximadamente 6% da população mundial), prevendo um aumento de 5 milhões de desempregados só para este ano. Informa ainda que entre os que trabalham, metade possui emprego instável e 43,5% (1.300 milhões de pessoas!) e 16,4% (487 milhões) vivem com menos de 2 e 1 USD por dia, respectivamente.

Nos meus tempos de mestrado aprendi que existe uma clara relação entre a percepção de pobreza e o volume de determinadas áreas cerebrais relacionadas com o stress. Os estudos afirmam também que crianças (em especial até aos 3) crescendo em famílias com baixa condição social experienciam níveis prejudiciais de hormonas relacionados com o stress, podendo atrasar seu desenvolvimento (em áreas como a linguagem e a memória). Já na época da Grande Depressão dos anos 30, pôde-se até observar que o desemprego influenciou negativamente a auto-estima e as relações conjugais e familiares.

É, por isso, essencial sensibilizar para a vitalidade dos valores espirituais na resolução de problemas económicos, fazendo com que justiça seja valorizada e não ambição, e que o fosso entre ricos e pobres cesse de aumentar, permitindo a realização de um crescimento sustentável e o estabelecimento de prosperidade global.

A Comissão Permanente para o Alívio da Pobreza da UNCTAD defende quea luta contra a pobreza (...) é de interesse de todos, pobres e ricos, doadores e beneficiários, num estágio nacional ou internacional” e a não posso senão compartilhar essa visão, pois trabalhar e estar empregado é um direito inalienável e uma responsabilidade vital, assumindo-se como esforço espiritual, ao ponto de, a Fé Bahá'í, por exemplo, elevá-la à posição espiritual de adoração.

Essa sacralização do trabalho enraíza-se na sua perspectiva de desenvolvimento social e económico. Os Textos Bahá’ís mencionam queas condições do povo devem ser arranjadas de tal modo que a pobreza desapareça, que todas as pessoas, tanto quanto possível, de acordo com sua classe e posição, participem do conforto e bem-estar”.

As comunidades devem ser encorajadas a identificar as suas próprias necessidades e começar seus próprios projetos, com o intuito de aliviar a pobreza, baseando-se em princípios económicos e, sobretudo, em valores morais e no encorajamento comunitário como um todo.

Em psicologia, Erich Fromm nos ensina que sanidade é sinónimo de amar e trabalhar. Assim, a maturidade humana é medida pela capacidade de criar e cuidar de gerações futuras. A produtividade, portanto, não é apenas produzir resultados mas, antes, um modo de se orientar perante o mundo e perante si mesmo, num contínuo processo de viver. Pois, como se pode ler:

“Benevolamente temos elevado vossa ocupação em tal trabalho ao grau de adoração a Deus, o Ser Verdadeiro. Ponderai em vossos corações as graças e bênçãos de Deus e rendei-Lhe agradecimentos, ao anoitecer e ao alvorecer. Não desperdiceis vosso tempo em indolência e ociosidade. Dedicai-vos àquilo que a vós mesmos e aos outros possa trazer proveito”.


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O dia que a Diversidade traz a Unidade da Humanidade! (Blog Action Day 2007)
Um Mundo, Uma Vida, e muitas vozes! (Blogagem pelos Direitos Humanos 2007)

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domingo, outubro 12, 2008

Jornalismo parcial!

Jornalismo deveria ser imparcial! É o que eu sempre pensei, o que sempre defendi.
Tenho amigas e amigos jornalistas, professores de jornalismos, estudantes de jornalismo. Eu mesmo estive envolvido com jornalismo universitário e com jornalismo científico e tentei sempre aprimorar o meu trabalho em imparcialidade! A verdade é que é um trabalho árduo e difícil. Muitos chamam-me a atenção para este ou aquele ponto que pode ser melhorado e, ouvindo os conselhos dos amigos, vou tentando caminhar para aquele estado no qual o jornalismo é um espelho polido da realidade!

Mas será que o jornalismo real, sério, prático segue esse caminho? Será que o New York Times e a CNN, os meus dois meios de comunicação prediletos são imparciais, neutros, corretos? A resposta, claramente, é... NÃO!

Recebi há cerca de 24 horas dois alertas na minha caixa de correio eletrónico. A notícia de última sobre a Governadora do Alaska, que estava em investigação antes mesmo de ser conhecida como vicepresidenciável por alegado abuso de autoridade.
O alerta da CNN, que remetia para a notícia, dizia:
A Gov. Sarah Palin abusou de seu poder no estado ao demitir um oficial mas não violou a lei, um painel legislativo do Alaska constatou.
O alerta do NYTimes, também remetindo para uma notícia, dizia:
Um comité legislativo investigando a Gov. Sarah Palin constatou que ela ilegalmente abusou de sua autoridade ao demitir o comissário público de segurança do Alaska.

Achei estranho! Um diz que é ilegal e o outro que não?
Reparem nos textos que apareciam no próprio site àquela hora. Li os textos, e a CNN era clara que ela agiu dentro das suas competências e da legalidade, apesar da situação ser dúbia. O NYT dizia que ela agiu abusivamente.

Pensei um pouco, e lá fui à pesquisa e o que descobri, senão o que eu já imaginava.
Aos menos atentos, relembro, Sarah Palin está na equipa presidenciável republicana.

Richard D. Parsons, chairman do Conselho de Diretores da TimeWarner (proprietária da CNN) é... Republicano!
E Arthur Sulzberger, Jr., chairman do Conselho de Sócios (e filho, e neto dos chairmen anteriores) da NYT Company, é... membro de uma família que é tida como clara apoiante dos democratas (sejam quais forem!) e o próprio jornal está cheio de ideias liberais.

A questão não é se apoio a este ou aquele candidato. Se ajudo-o ou não! Se sou isto ou aquilo. A questão é que o jornalismo não pode brincar com os factos. E apesar de o NYTimes ter vindo a alterar o texto 18 minutos mais tarde, a maior parte só lê o texto que vai à caixa de email e não abre a notícia. E lá, era claro, a mulher agiu ilegalmente! A verdade aqui não é suficiente (ela agiu de forma dúbia! não, aproveita-se até ao máximo e abusa-se a verdade).

Sinceramente, não sou nem pró-McCain/Palin nem anti-Obama/Biden. Nenhuma das duas listas é, na minha perspectiva, boa o suficiente! Mas, já me dão asco as notícias incompletas, falaciosas, tendenciosos.
A imprensa Obama elogia o ser ar fresco de quem não é do sistema e critica o facto de Palin não ser do sistema e ser inexperiente. Criticam os votos pró-guerra McCain e elogiam a posição anti-bélica de Biden quando ele, na verdade, votou a favor da guerra! A filha grávida de Palin é sinal de malfuncionamento familiar, mas ninguém relata a história do irmão de Obama que vive numa favela de Nairobi possa ser o mesmo! McCain esteve envolvido num escândalo político dos anos 80, mas Obama nunca se envolveu com o cartel mafioso!
A imprensa McCain tampouco é santa! Cria mentiras e desvirtua verdades! Chama Obama de terrorista. Critica a diferença de pensamento entre Biden e Obama, mas não repara que Palin não poderia ser mais diferente de McCain.
E a lista continua... nem vale a pena continuar a dizer seja o que for.

No fim, a vitória será de um homem: Obama ou McCain! As consequências? Essas sim, serão vividas por todos!

(se o Pres. Obama fizer asneiras, o NYTimes vai encontrar forma de justificar e se o Pres. McCain fizer algo louvável, quem sabe, o NYTimes vai dizer que foi um conselheiro democrata que o levou a tal...)


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O país da multiculturalidade e da multipossibilidade
Eleições EUA: o último dos tabus
Debate vicepresidencial e outras coisas...

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sexta-feira, outubro 10, 2008

Dia da Saúde Mental - Dia Viktor Frankl

Ansioso com o Congresso ao qual me dirigirei dentro de cinco dias, aproveito os últimos minutos do Dia Internacional da Saúde Mental deste ano para homenagear uma personagem cujo simples existência me impacta! Alguém cujo papel no desenvolvimento da saúde plena (mental, física, espiritual) é crucial!

Viktor Emil Frankl, fundador da Logoterapia, foi mais que um mero psiquiatra. Viveu duas guerras mundiais e parte importante da sua vida confinado a campos de concentração nazis. Como resultado dessa experiência única de vida, surgiu uma obra que o Congresso do Estados Unidos viria a considerar uma das mais importantes obras da Humanidade!

Em 1946 o livro O Homem em Busca de Sentido é publicado, inicialmente com o intuito de transmitir as ideias de um psiquiatra num campo de concentração. Mas, veio a assumir a obra, dizendo, há 25 anos (1983) que "havia querido simplesmente transmitir ao leitor, através de um exemplo concreto, que a vida tem um sentido potencial sob quaisquer circunstâncias, mesmo as mais miseráveis", ou seja, aquelas que viveu, na pele, como prisioneiro de campos de concentração.

E, mesmo no mais limitador dos espaços, como só um Campo de Concentração pode ser, Frankl foi capaz de notar que valia a pena Ser, Existir. Ensinou a seu companheiros que a existência implica viver para fora, para os outros, cumprindo um amor, uma missão de vida, ou mesmo ultrapassando um sofrimento.

Frankl ensina-nos, como pessoas e como psicólogos, que sendo aquilo que somos hoje e aquilo que fomos ontem, melhor poderemos ser amanhã, caminhando continuamente para uma plenitude humana dotada de sentido, tanto individual como coletivo.

Ser não é uma posição estagnada é, antes, uma condição de quem pode e deseja evoluir.

O caminho não é para ser percorrido perseguindo a felicidade ou o sucesso. Eles virão naturalmente, basta deixá-los acontecer! Para isso, dizia Frankl, que deveremos escutar aquilo que a consciência diz que devemos fazer e colocá-lo em prática da melhor maneira possível. Assim, veremos que a longo prazo, nesse caminho, o sucesso e a felicidade nos irão perseguir, "precisamente porque esqueceram de pensar nele".

Por isso, o caminho do Ser não se percorre correndo sozinho ou obstinado com o destino. Percorre-se com amigos de jornada, caminhando com sentido, para poder encontrar, nalgum momento, esse mesmo sentido.

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Dia da Saúde Mental (2007)

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quinta-feira, outubro 09, 2008

Atenção: Cafeínar prejudica gravemente (ou talvez não tanto) a saúde!

Li na Forbes uma entrevista sobre bebidas energéticas que existem no mercado, em especial uma cujo sabor me agrada - o Redbull, a volta do qual existe um sem-número de mitos.

Algumas das questões abordadas são de relevo, tendo a ver diretamente com a saúde de quem consome tais produtos, entre os quais o grupo mais vulnerável de rapazes que, desejando um pouco de animação que poderá parecer saudável (não bebendo, nem fumando, nem "afins"...) poderão encontrar alternativas de diversão nelas.

O entrevistado, Roland Griffiths, não se coíbe em advertir que um um dos riscos do consumo de cafeína é a intoxicação:

Intoxicação por cafeína é um síndroma bem reconhecido. Os seus sintomas clássicos são nervosismo, ansiedade, desassossego, insónia, incómodo [gastro-intestinal], tremores.

Chega mesmo a dizer que a overdose é uma realidade no mundo da cafeína, apesar de as doses variarem, pois "há algumas pessoas que aparentam ser geneticamente relativamente insensíveis à caféina. Noutras, estarão ansiosas, desconfortáveis, terão interrupções de sono" e eu... nem dormir consigo se tomar cafeína a partir das 18:00!

E o mito de o amigo do amigo que bebeu alguma dessas bebidas e foi parar ao hospital pode bem ser verdade! O professor universitário e neurocientista explica que uma pessoa, se não sabe o nível de cafeína ao qual é tolerante e as bebidas não informam do nível de cafeína (eu já ouvi que a Red Bull tem 7 doses de café, 11 ou mesmo 30!), adicionado à ingenuidade de se beberem três latas porque o sabor é agradável, pode mesmo levar às Emergências!

E apesar de poder levar a consumos posteriores de outras "drogas" como a ritalina (que deveria ser prescrita), o entrevistado admite uma certa ambiguidade. Por um lado estão todos os problemas que mencionou ao longo da entrevista todos mas, por outro, "não é como o álcool ou o fumo de cigarros, que se encontram associados a riscos de saúde que ameacem a vida". Termina mesmo dizendo:

Não creio que deveríamos apressar-nos em pensar que a cafeína é perigosa no mesmo sentido que a cocaína, mas [e aí está o cerne da questão!] pode funcionar como porta de entrada.

Seja como for, a única solução é conhecermos os nossos limites e cingir-nos pela moderação!

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terça-feira, outubro 07, 2008

E havia dúvidas?

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sábado, outubro 04, 2008

Debate vicepresidencial e outras coisas...

Ontem tive curiosidade e vi, na íntegra, o debate entre os candidatos à vice-presidência estadunidense e não deu para ficar sem tirar algumas notas mentais, enquanto observador de linguagem não-verbal.

Como todos os demais, fiquei surpreso com a prestação inicial de Sarah Palin, a candidata republicana que, há dias, não sabia explicar os seus conhecimentos de política externa nem era capaz de citar os jornais que lê. Foi vitoriosa na primeira parte do debate, sabendo contornar as questões e tocar naquilo que parecia considerar o cerne.

Chegou mesmo a incomodar o seu rival, Joseph Biden, um senador experiente que não parava de demonstrar nervosismo no sorriso que demorava imenso tempo a desaparecer ou a passar a mão, com frequência, pelo cabelo ou a coçar o pescoço ou o nariz. Chega mesmo a engasgar-se e gaguejar ao falar. Mas engasga-se num momento em que está a explicar coisas que sabe e que possui muita informação, como que se o seu cérebro fosse mais rápido que as suas cordas vocais.

Biden, explica o plano de saúde do rival de uma forma que, mesmo repetindo a cena um par de vezes, não fui capaz de perceber. E Sarah Palin, ao invés de retrucar, diz que “posso não responder da forma como você ou a apresentadora querem”, mas aquilo que o povo americano quer. Tenta empatizar com a audiência. Olha para a câmera e raramente para o oponente – estratégia essa que deve ter sido dita pelo responsável da campanha pois McCain nunca olhou para Obama no debate entre eles. Parece que a juventude e vitalidade de Obama e de Palin assusta um pouco a idade de McCain e Biden!

No momento crucial, no qual o candidato democrata é o rei (negócios estrangeiros), ela parece estar em modo hibernação. Não se move, não pisca, não sorri e quase não se mexe. E quando reage, tenta explicar, à sua maneira inexperiente, que não se pode sentar incondicionalmente com alguns países e negociar, como Obama propôs. Biden nega essa proposta e nega ter sido a favor da guerra do Iraque. Ao que ela responde, sorrindo docemente para a câmera, que é aqui que se vê que ela não é de Washingont, pois “lá de onde eu venho, não votamos a favor e depois dizemos que somos contra”, referindo-se ao facto de Biden, enquanto senador, ter aprovado a guerra no Iraque.

E lá vai a governadora, pelo debate, dizendo que “para uma legenda que clama ser a mudança, vocês olham muito para trás” e que John McCain é o verdadeiro independente. Disse-o tantas vezes que Biden acabou por interrompê-la certa vez para explicar como é que McCain não é independente (ela nunca mais tocou no assunto). Ora, se há algo que se diz uma vez e pega, não se pode continuar dizendo de modo a permitir que o outro, nalgum momento, nos enterre com as nossas palavras.

Sarah Palin é inexperiente, material para prefeita, governadora e miss. Algum dia, talvez, presidenciável. Quando lhes perguntam sobre os seus defeitos ela dá voltas e se contorce (o de ser inexperiente). Ele, Biden, transforma-o em virtude: ser indisciplinado não é um defeito, é uma capacidade de sobreviver às dificuldades de forma original. Chega mesmo a agir como Palin, falando da falecida esposa, parando durante um instante e baixando o seu tom de voz.

Ambos eram muito parecidos, com a diferença que Palin falava para o público, mostrando-se uma de nós, enquanto que Biden respondeu com retórica, argúcia e palavras que, mesmo que imperceptíveis pelo teor, eram bem estruturadas.

O debate foi ganho por ele, mas, o otimismo dela poderá ter dado uns pontos à campanha, já que os estudos demonstram que os candidatos mais otimistas são os que ganham as eleições.

Agora, é aguardar pelos resultados.

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