sexta-feira, maio 23, 2008

O dia em que tudo começou, em 1844!

[os mais sensíveis poderão desejar não ler este texto, eu mesmo tive dificuldades em escrever partes dele...]

Hoje, bahá’ís de todo mundo estariam comemorando alegremente a Declaração do Báb, o Arauto da Fé Bahá’í. E, não fosse a nossa prescrição de comemorar mais do que entristecer, poderíamos estar celebrando o início das perseguições aos bahá’ís. Em 1844, quase ao mesmo tempo que Samuel Morse enviava a mensagem que viria alterar o rumo da ciência, noutro ponto do planeta, o Báb anunciava ser o Prometido aguardado pelas Escrituras Sagradas de religiões anteriores, Cuja missão seria preparar o caminho para Um maior que Ele que – de acordo com aquelas Escrituras – viria inaugurar uma Nova Era espiritual para a humanidade, aonde a retidão e paz seriam aclamadas, iniciando um novo ciclo na história religiosa da humanidade.

Como muitos saberão, a Fé Bahá'í gira a volta de três Figuras centrais, a primeira das quais era um jovem de 25 anos nativo da cidade de Shiráz (a mesma dos 54 jovens bahá’ís presos) conhecido como o Báb (do árabe, a Porta).

O fanatismo déspota iniciou rápida e severa perseguição, precipitando a prisão do Báb, Seu exílio às montanhas do Azerbaijão, aprisionamento na fortaleza de Máh-Kú e Chihríq e a Sua execução, em Julho de 1850, por um esquadrão de fuzilamento em praça pública de Tabríz. Não menos de 20 mil de Seus seguidores foram mortos com tal crueldade bárbara que chegou a evocar a simpatia e a inqualificável admiração de um número de escritores, diplomatas, viajantes e académicos ocidentais, alguns dos quais foram testemunhas desse abominável ultraje, e foram levados a registá-lo.

O escritor português, Eça de Queirós, chegou a escrever que

Calado, invadido pelo pensamento do Báb revolvia comigo o confuso desejo de me aventurar nessa campanha espiritual… Por que não? Tinha a mocidade, tinha o entusiasmo… Via-me discípulo do Báb… E partia logo a pregar, a espalhar o verbo babista. Onde iria? A Portugal, certamente, levando de preferência a salvação às almas que me eram mais caras.

Leo Tolstoy afirmou que

Os ensinamentos dos Bábís possuem diante de si grande futuro… Portanto, simpatizo com os ensinamentos babís de todo o meu coração, já que ensinam a fraternidade, a equanimidade e o sacrifício da vida material em favor do serviço de Deus…

A vida de muitos bábís foi-se convertendo em vidas exemplares, semelhantes às dos apóstolos e discípulos de Cristo, que eram degolados por leões, aos olhos de todos. Doutos do clero e líderes estatais queriam, uma vez mais, cortar a árvore da religião com o machado do sangue. Mas não conseguiram! Chumbo derretido era derramado pela garganta de um depois de torturado impiedosamente enquanto soldados colocavam velas acesas em buracos feitos no corpo de outro. Foram procurados de casa em casa, presos, condenados a mortes indescritíveis. Um oficial austríaco chegou a descrever aqueles que

com os olhos arrancados, devem comer, no local do suplício, sem qualquer tempero, suas orelhas amputadas; ou estes cujos dentes são extraídos com desumana violência pela mão de seu executor; ou estes cujos crânios nus são esmagados a golpes de martelo; ou ainda, estas infelizes vítimas que servem de lampadários ao mercado, tendo (…) seus peitos e ombros profundamente cavados pela populaça que insere mechas acesas nas feridas abertas. (…) Não raro acontece que o infatigável engenho dos orienteis se dirige no sentido de torturas novas. Assim, esfolarão as plantas dos pés do babí, embeberão as feridas em azeite fervente, calçarão os pés com ferradura em casco de cavalo e obrigarão a vítima a correr. Nenhum gemido se ouve do peito da vítima; o tormento é suportado em tétrico silêncio pela sensibilidade entorpecida do fanático; deve correr, agora; o corpo não pode suportar o que a alma suportou – cai. (…) Vi cadáveres esfrangalhados por cerca de cento e cinquenta balas. Quando releio o que já escrevi tenho a impressão de que aqueles que estiverem convosco em nossa mui querida Áustria duvidarão da inteira veracidade deste quadro, acusando-me de exagero. Prouvera Deus que eu não tivesse vivido para vê-lo!

Prouvera Deus que eu não tivesse que o ler, pensando que a história se repete ou poderá repetir! Que os bastiões dos Direitos Humanos se ergam: governos e estadistas, pessoas comuns como cada um de nós, ergam e demandem o fim deste século e meio de sofrimento baixo o jugo do fanatismo! Será necessário repetir o erro do passado remoto em que cristãos sofreram por 3 séculos: os bahá’ís terão que sofrer ainda século e meio? Um sofrimento cujo propósito é a eliminação completa desta Fé?

Enganam-se aqueles que crêem que conseguirão tal proeza! O Professor Benjamin Jowett, Mestre de Balliol, afirmou que apesar do descrito,

Não será impossível ao movimento Bábí vir a se mostrar possuidora da promessa do futuro.

Este Movimento Bahá’í é a maior luz que apareceu no mundo desde o tempo de Jesus Cristo. Devem observá-lo e nunca perdê-lo de vista. É demasiado grande e está demasiadamente próximo para que esta geração o compreenda. Somente o futuro poderá revelar sua importância.

Para os que ainda não entenderam o crime dos bahá’ís iranianos, a Freedom to Believe Foundation explica-o bem:

Estes homens e mulheres, junto com milhares de bahá’ís no Irã que foram aprisionados, torturados e executados no decurso do último século estritamente por causa de suas crenças. E qual é o seu crime? São cidadãos do mundo que têm uma lealdade sadia ao seu país e desejam vê-lo prosperar. (…) Por causa de sua fé, não participam em partidos políticos e mantém-se firmes às suas convicções de que todos os povos deveriam ter o direito à consciência. Acreditam, em última instância, que a raça humana é uma família, que somos guiados e protegidos por um Deus, o Fundador de todas as grandes religiões da humanidade, que nos ensinam a respeitar o próximo, apreciar a diversidade de crenças e amar ao próximo.






[O vídeo faz mostra documentos do Estado Iraniano demandando a vigilância, expulsões e restrições aos bahá'ís, mostra alguns dos bahá'ís presos e mortos no Irã (pessoas comuns, líderes da comunidade bahá'í, jovens trabalhando como professores, crianças e jovens como Ruhu'lláh e Mona), a lista dos executados e desaparecidos, a destrução de locais sagrados (templos, sítios históricos, cemitérios), slogans anti-bahá'ís em paredes de casas]

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quinta-feira, maio 22, 2008

Ainda sobre os presos bahá'ís. O governo acha que convence...

Quando há uns dias postei sobre a prisão de 6 bahá'ís no Irã, várias pessoas têm-se perguntando sobre as causas que levam o Governo Iraniano a tratar de tal forma os bahá'ís. Afinal de contas, para além do Zoroastrianismo, a Fé Bahá'í é a única religião verdadeiramente iraniana, uma vez que o seu Fundador nasceu naquele país: os iranianos deveriam defendê-la como uma questão de cultura nacional mais que qualquer outra coisa. Mas, infelizmente, não é assim!

As acusações, conforme indiquei anteriormente, mantém-se. O Irã, através do Porta-Voz do goevrno, o Sr. Elham, afirmou que o bahaísmo é "uma velha e inútil política", continuando que "cada país deve defender sua segurança, e isso nada tem a ver com assuntos ideológicos".

Obviamente a Sr.ª Dugal, representante da Comunidade Bahá'í, sabiamente replicou:

Longe de ser uma ameaça à segurança de estado, a comunidade bahá’í do Irã tem grande amor pelo seu país e está profundamente comprometida com seu desenvolvimento. Evidência está, por exemplo, no facto que a vasta maioria dos bahá’ís continuou no Irã apesar de intensas perseguições, a negação de acesso à educação por seus estudantes (...).

Perguntaríamos se assuntos de segurança de estado e não de ideologia estiveram envolvidos em recentes incidentes tais como a destruição de um cemitério bahá’í e a utilização de bulldozer para partir os ossos de um bahá'í que lá estava enterrado; o assédio de centenas de crianças bahá'ís em idade escolar (...) pelos próprio professores e oficiais escolares (...); ou na publicação de dúzias de artigos difamatórios anti-bahá’ís no Kayhan e outros meios de comunicação patrocinados pelo governo (...).

O que o governo iraniano não pode tolerar é que o povo iraniano respondem menos à propaganda governamental, porque vêem a realidade — que os bahá'ís iranianos amam seu país, são sinceros no desejo de contribuir para o bem-estar, são amantes da paz, e são obedientes ante a lei (...). Consequentemente, há uma crescente simpatia pelos bahá’ís. Crescentemente, pessoas de todos os níveis da sociedade estão vindo em defesa, tanto particular como publicamente, e há um crescente interesse e atração à Fé Bahá’í entre a população.


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quarta-feira, maio 21, 2008

O perigo da diversidade (???)

Aqui já falei várias vezes das vantagens da diversidade nas organizações, na Europa, ou nas eleições no EUA. Já falei que da diversidade surge a necessidade de Acordos que permitam melhor interação entre os povos.

Hoje, dia mundial da diversidade, explico porque sou tão a favor da diversidade.

A representação Bahá’í nas Nações Unidas declarou em 1990, no documento Combating Racism (em português, Combatendo o Racismo):

Na visão bahá’í, a unicidade do género humano representa uma interdependência orgânica dentro de uma entidade social corpórea. Isto implica que o bem-estar dos componentes constituintes desse corpo está inextricably interwoven com a do todo. Ademais, a unicidade essencial da raça humana não é restrita à dimensão física; estende-se aos aspectos sociais e espirituais da vida humana. Alentando e desvelando o potencial transcendental do homem, a diversidade cultural pode começar a ser vista como a expressão de sua verdade universal. Somente então as barreiras raciais percebidas poderão ser ultrapassadas.

Durante a minha estadia no Brasil fiz vários amigos, mas gostaria de aproveitar e falar de três deles. Hayden, Renê e Naim. O primeiro com nome anglófono, o segundo nome francês, e o terceiro nome persa. Dois nascidos no Brasil e outro no EUA. Os dois últimos estudam ciências e direito, e o primeiro é professor de inglês. Cada um dotado de um talento único: uma voz brilhante e sem comparação, uma capacidade de escrita doce, e uma astúcia lógica impressionante. Não poderiam ser pessoas mais diferentes, mas são estas as três pessoas com quem mais me dei no Brasil, ainda que por tempos curtos e escassos. Ouvir e sentir a música do Hayden, a escrita do Renê ou o pensamento do Naim faz-me pensar na unidade que se pode encontrar na diversidade humana. Enquanto alguns podem preferir rodear-se de pessoas que lhes são exatamente iguais, clones de pensamentos e gostos de si mesmas, outras tentam ter, entre seus amigos, os mais diversos e distintos de todos, pois entendem a beleza da humanidade na diferença.

Bahá’ís, por natureza, somos (ou tentamos ser) pessoas assim. Provimos de 236 países e territórios de todo o mundo, reunindo representantes de não menos que 2.112 raças, números entre apoiantes de origem cristã de várias denominações, muçulmanos de ambas variantes sunitas e chiita, judeus, hindus, zoroastrianos e budistas. Os livros de literatura bahá'í estão publicados em 802 idiomas. E não poderíamos ter uma Convenção Internacional que corresse melhor!

Mas, sabe-se lá porque, o estado iraniano teme essa diversidade, sente-se ameaçada por ela. Um dia conecta-a a atentados, no outro insulta-a. Um dia chama-lhe espionagem americana, no outro sionista. Um dia tortura crianças em escolas, no outro prende adultos em prisões. Desaparecem seus líderes, seus aderentes são vigiados, seus trabalho retirados, sua educação impedida. É possível entender como é que uma comunidade que, pacificamente, consegue aproximar tantas diferenças seja vista como ameaça tal que seja vítima de perseguições impávidas que nos fazem gelar não a espinha, mas a própria alma?

Como diria Phillipe Copeland:
Ainda aguardo alguém que me explique como é que uma religião que faz com que pessoas de todas as origens trabalhem em conjunto por um mundo melhor possa ser uma coisa má. Que possível ameaça pode apresentar a qualquer um? Porquê seus seguidores merecem assédio, destruição de seus locais sagrados, expulsão de escolas e trabalhos, aprisionamento e mesmo a morte? O que há de tão assustador na Fé Bahá'í?

Alguém, por favor, explique-me o medo à diversidade…






Do outro lado do mundo, no Brasil, a televisão faz uma cobertura sobre a possibilidade de encontrar a beleza da diversidade no lugar mais difícil de imaginá-la: no eixo Israel-Palestina.
Veja o vídeo do Globo Repórter:

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terça-feira, maio 20, 2008

Jornais como espelho do mundo e não da propaganda

Washington Araújo afirma que “recebemos ondas e ondas de notícias, muitas delas, apenas pela metade, outras tocando a verdade, os fatos de maneira muito superficial e até tendenciosa”, e isso foi o que aconteceu há menos de pouco tempo, mesmo ao meu lado.

Há cerca de um mês (13 de Abril), sites noticiosos a que subscrevo foram enviando uma informação sobre uma explosão que ocorrera na cidade de Shiráz (Irã). As notícias iam mudando à medida que o tempo ia passando:

  • Ocorreu uma explosão no Irã;
  • Ocorreu uma explosão na cidade iraniana de Shiráz, provocando vítimas;
  • Ocorreu uma explosão em mesquita da cidade iraniana de de Shiráz provocando vítimas letais e número desconhecido de feridos;
  • Ocorreu uma explosão na mesquita na qual se faziam críticas aos grupos wahabistas e bahá’ís, na cidade iraniana de de Shiráz provocando número X de vítimas letais e de feridos.

A notícia ia, assim, como que evoluindo e sempre pedindo àqueles que lá estavam que fossem dando notícias. O número de mortos cresceu de 9 a 12 em poucas horas; os feridos de 56 a mais de 12 dezenas e as insinuações que foram ganhando vida.

O Sr. Enjavinejad, o principal clérigo da mesquita Mártires de Hosseyn e quem discursava aquando da explosão, prontificou-se a dizer que “acreditamos ser possível que os bahaioons tenham mão nisso”. Os noticiosos diversos, mundo afora, sem pensar nem ler, meramente traduziram o texto da Agência Governamental Fars. Da BBC inglesa à brasileira Folha de S. Paulo, podia-se ler que se tratava de um “encontro semanal de sábado sobre os grupos hereges wahabi e bahai”.

A Folha prontificou-se a corrigir o erro, retirando os termos herege e extremista de todas as suas notícias, assumindo o erro, e adicionando algumas novas frases à sua versão anterior: “Após 1979, a fé Bahai foi banida legalmente e seus seguidores não são reconhecidos pela constituição iraniana como minoria religiosa”. Notei ainda a neutralidade da CNN, e o viés de aparente neutralidade da Al-Jazeera, que, logo após falar da explosão durante os tais discursos menciona que “No ano passado, comunidades Bahais no estrangeiro dizem que alguns dos seus membros foram detidos em Shiraz enquanto trabalhavam com comunidades pobres”. Nunca tinha notado que um noticioso escrevesse algo como dizem que, quando se trata de verdades objetivas. 54 jovens bahá’ís foram presos (alguns muçulmanos também, mas liberados imediatamente mediante identificação religiosa), sob crime de propaganda contra o estado, quando estavam, sob a égide de um programa da Unicef, dando aulas de literacia a crianças de bairros carenciados…

Chegou-se mesmo a falar de uma bomba dentro daquelas pastas para computadores e que, minutos antes da explosão, foram vistas pessoas estranhas que lá deixaram um pacote suspeito, abandonando o local de imediato.

Esqueceram-se foi de mencionar que decorria, na mesma mesquita, uma exposição de armas e que, por falta de adequada segurança, a explosão, que foi acidental, ocorreu.

Interessante foi notar, entretanto, que vários sites noticiosos com espaços para comentários iam declarando que era uma explosão, mas originada por questões entre o poder instituído e a oposição iraniana. Havendo mesmo quem dissesse que "Estou ligando de Shiráz. Por agora as forças policiais estão tentando retratar isto como uma acidente, por outro lado estão pretendendo que são eles as vítimas ao mostrar os feridos e mortos. Parece que querem usar isto no momento adequado para seu próprio benefício; significa que pelo que estava sendo dito contra os nossos queridos Baha'is na reunião [na mesquita] querem pôr as culpas nos Baha'is".

A explosão no Irã foi um incidente, a explosão em Shiráz não foi um ataque bomba, e, finalmente, o Irã excluiu a possibilidade de ataque terrorista na explosão em Shiráz foram os títulos das notícias da própria agéncia Fars que, antes, evitava mencionar essa possibilidade. E os bahá’ís, segundo os noticiários que continuavam a falar deles, deixaram de ser violentos terroristas e passaram a ser “buscadores de prazer e com coração de galinha quem nem se atrevem a se identificar, quanto mais conspirar um ataque terrorista”.

E não é que não se decidem? Agora que 6 líderes informais da Comunidade Bahá'í iraniana foram presos, alguns noticiosos querem fazer crer que eles estariam envolvidos nas explosões. Por outro lado, alega-se que há um grupo de terroristas do EUA que foram já presos, e, por um outro lado ainda, Canadá e Israel são acusados de responsabilidade...

Mas, afinal, em quais das histórias aqui linkadas devemos crer?
Em qual dos relatores, autores, jornalistas, políticos e comentadores se deve acreditar?

Seja como for, nada disso importa! Os seis líderes informais da Comunidade Bahá'í iraniana estão encarcerados em Evin e o estado iraniano deve ter consciência que, da mesma forma que a investigação científica sugere, mensagens negativas indicando risco são consideradas mais confiáveis que as positivas, que os eleitores pesam mais a informação negativa que a positiva sobre os candidatos e que o viés negativo possui papel mais forte na modelação da opinião pública. Assim sendo, o que se pretende, sobretudo, é manchar a imagem da Comunidade Bahá'í do Irã, o que não é de me espantar pois quando amigos muçulmanos saem do Irã e me conhecem, aqui em Portugal, me comentam: “Vocês bahá’ís não são nada como nós pensávamos!”. Pois é, porque nós acreditamos que

A religião deve unir todos os corações e fazer com que as guerras e disputas desapareçam da face da terra, dar origem à espiritualidade e trazer vida e luz a cada coração. Se a religião torna-se causa de aversão, ódio e divisão, melhor seria deixá-la, e tirar-se de tal religião constituiria ato verdadeiramente religioso. Pois é claro que o propósito de um remédio é curar; mas se o remédio agrava a doença, é melhor deixá-lo de lado. Qualquer religião que não seja fonte do amor e da unidade, não é verdadeira religião.

('Abdu'l-Bahá, Palestras em Paris)

A afirmação daqueles meus amigos demonstra o quanto o entendimento depende da determinação e forma como a notícia é mediada pela comunicação social, e nem "posso imaginar porquê tão forte Bahai-fobia existe na sociedade iraniana".

Se, uma vez mais, como diria Araújo, “a imprensa deve ser vista como um espelho dotado de visão e fala. Ou seja, a busca da verdade, a busca do outro lado da notícia, a sinceridade na apuração das notícias ainda são os grandes pilares de um jornalismo saudável”, eu teria que concordar com ele e dizer que… é mesmo tempo de polir o espelho!


Fotos e vídeos da explosão estão ainda disponíveis pela rede.

Atualizado pelas 20h:
Como que, forçados pela pressão internacional, o Governo iraniano, através de seu Porta-Voz Golham Husayn Elham, declara, ante jornalistas iranianos e estrangeiros, sobre a prisão destes 6 bahá'ís que "movimentos organizados foram orquestrados contra a soberania nacional" "com estrangeiros, em especial com sionistas", terminando por afirmar que "confundir questões de segurança nacional com assuntos religiosos, que sequer penso que seja religioso, é um erro".
Quem leu este texto na íntegra e conhece o historial da situação, não pode, senão, pensar que se trata de uma declaração infundamentada com o único propósito de se justificar o injustificável.

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segunda-feira, maio 19, 2008

Bahá'ís presos

Anualmente, o Corpo Supremo Bahá’í emite uma mensagem a todos os crentes pelo mundo. Este ano, nessa Mensagem, pode-se ler que conscientes das forças de integração e desintegração que operam na sociedade atual pode-se ver o fracasso dos sistemas do mundo. A humanidade sofre pelas forças da opressão, sejam elas originadas nas profundezas do preconceito religioso ou sobre o materialismo desenfreado.

Estas forças – de integração e de desintegração – são as que, por um lado, permitem que o Golfo Pérsico melhore as suas relações interreligiosas, ao mesmo tempo que, por outro, comprovam a degradação ao mais triste grau.

Relatórios internacionais e centros de notícia por todo o globo têm passado a notícia do encarceramento de 7 líderes bahá’ís da Comunidade Bahá’í no Irã, pelas autoridades policiais do ministério da informação. Invadiram as casas de 6 deles a 14 de Maio e prenderam-lhes sem constituírem acusação. Fariba Kamalabadi, Jamaloddin Khanjani, Afif Naeimi, Saeid Rezaie, Behrouz Tavakkoli e Vahid Tizfahm juntaram-se a Mahvash Sabet, a sétima membro do intitulado Amigos Bahá’ís do Irã (Yaran’i Bahá’í), que já se encontra presa desde 5 de Março deste ano.

O seu crime é única e exclusivamente serem bahá’ís, o que é considerado um crime de apostasia, conforme relata a CNN. O Departamento de Estado do EUA já se pronunciou sobre o tema, declarando que se trata de “uma clara violação dos compromissos e obrigações do regime iraniano no que respeita às normas de liberdade religiosa”. o ministro de Relações Exteriores do Canadá afirmou "profunda preocupação" e Joseph K. Grieboski, um dos grandes relatores dos Direitos Humanos, lembra que:

A maior recolha e detenções dos líderes bahá’ís nacionais ocorreu no início dos 1980s. Em 1980, todos os 9 membros da liderança bahá’í foram raptados e então desapareceram. Os bahá’ís não têm clero oficial, e desde que suas Assembleias Espirituais foram banidas pela lei após a Revolução Iraniana de 1979, têm contado com a eleição de comités nacional e locais como líderes da fé.

O governo iraniano severamente restringe as vidas e práticas religiosas dos bahá’ís, que são cerca de 300.000 e são a mais ampla minoria religiosa do Irã. Os bahá’ís também sofrem mais discriminação oficial e assédio que os seguidores de qualquer outra fé minoritária. Os bahá’ís são impedidos de servir no governo e exército, e geralmente é-lhes negado a admissão a universidades estatuais.

Escusado será dizer que os bahá’ís de todo o mundo temem que seus irmãos em Fé sejam torturados ou mesmo executados como os oito líderes da Assembleia Nacional dos Bahá'ís do Irã executados em Dezembro de 1981, ou dos mais de 250 executados desde a Revolução Islâmica de 1979. Ou ainda que o número de presos aumente, tendo em conta os milhares de presos desde a Revolução, os 54 jovens presos no ano passado por trabalharem num projeto social com aval da UNICEF, ou que as perseguições piorem para as crianças que são maltratadas em escolas públicas, ou os bahá'ís que são amarrados em árvores para ser queimados com gasolina.

[14 de Maio de 2008: seis líderes bahá'ís de Teerã são presos, levados à prisão de Evin
5 de Março de 2008: proeminente bahá'í de Teerão chamada a Mashhad para interrogatório, ainda detida].

Gostaria de terminar este texto com o pensamento de Wendi Momen sobre o tema, algo que muitos poderão estar a pensar enquanto lêem estas linhas:

Comparado à perda massiva de vida no Burma e na China, comparado ao colapso de toda uma economia no Zimbabué, o aprisionamento dos Bahá’ís no Irã parece irrelevante, certamente indigno de notícia.

Um dos piores traços dos desastres que têm cercado o nosso mundo é que têm sido constituídos pela nossa inabilidade coletiva em agir coletivamente. Ainda estamos divididos por país, raça, religião, cor de pele, classe e sexo. Falhamos em lidar uns com os outros com justiça e humanidade. Pessoas morrem em furacões mas muitos mais morrem porque nossos líderes não confiam em trabalhadores que ajudem e assistam àqueles feridos ou carentes de comida e água. (…) A pessoas marginalizadas, quer em Nova Orleães, Burma, China, Manchester ou Irã, é permitido sofrer porque nós não sairemos para agir juntos e trabalhar em unidade para eliminar ódio, ignorância, pobreza, rancor e preconceito. Podemos conquistar o racismo, empoderar mulheres a avançar, viver mais gentilmente, permitir boa governação para prosperar, trabalhar uns com os outros ao invés de uns contra os outros – mas não o fazemos. Estamos preocupados, estamos frustrados, enviamos dinheiro, oramos – mas não nos unimos e usamos o nosso poder coletivo para lidar com estes assuntos.

Por isso, pergunto, caro leitor, há algo que nós – bloggers e leitores, bahá’ís, cristãos, muçulmanos e ateus, portugueses, brasileiros e iranianos, nacionais e imigrantes, … Há algo que você que lê o texto ou eu que o escrevo possamos fazer para parar mais essa tragédia?– Estou aberto a ideias.

[os 7 bahá'ís presos este ano, em foto oficial]

Afinal de contas:

Tudo o que é preciso para o triunfo do mal é que homens bons não façam nada
(Edmund Burke).

O que me preocupa não é o grito dos maus e sim o silêncio dos bons
(Martin Luther King).

Nós mesmos somos o futuro. Nós somos a revolução
(Beatrice Bruteau).

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sábado, maio 17, 2008

Acordo Ortográfico (3 de 3) - ser a favor é entender o passado e sentir o futuro

A favor do acordo
Estou feliz com a aprovação do Acordo em Portugal! Bem, na realidade, pelo voto ratificativo que permitirá a Portugal manter a sua posição de catalisador da unidade idiomática portuguesa.

Se não fosse aprovado, a pergunta de Carlos Reis (professor de literatura) estaria ainda ecoando em nossos ouvidos: “Portugal deveria manter-se preso a uma abordagem conservadora da pronúncia, como se fosse o último bastião da identidade portuguesa?. O património é de um povo vasto e espalhado por quatro continentes ou de exclusividade de certos doutos que se recusam em ver o idioma evoluir, da mesma forma que no século XIX dizia-se que a ciência não poderia mais evoluir? Não! A Assembleia da República Portuguesa deu a sua resposta, apesar de todas as polémicas.

José Saramago (único Prémio Nobel de literatura em português) diz que “Temos que superar essa ideia de que somos os donos da linguagem”, pois “Os donos da linguagem são os que a falam, para o bem ou para o mal”.

Afinal de contas, o português é a terceira língua ocidental mais falada, após o inglês e o espanhol. A ocorrência de ter duas ortografias atrapalha a divulgação do idioma e a sua prática em eventos internacionais. Sua unificação, no entanto, facilitará a definição de critérios para exames e certificados para estrangeiros e ser contra ele é não entender Fernando Pessoa, aquele ídolo da literatura portuguesa, tão citado neste aceso debate que poderia dar uma guerra civil se fosse há uns anos atrás, quando, em 1931 escreve sobre o I Acordo (sim houve outro e aqueles que eram/são contra quase nem se lembravam) de 1911 que finalmente entraria em vigor:

Odeio (…) não quem escreve em orthographia simplificada, mas a pagina mal escrita, como pessoa propria, a syntaxe errada, como gente em que se bata, a orthographia sem ipsilon, como o escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse.

Sim, porque a orthographia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da translitteração greco-romana veste-m’a do seu vero manto regio, pelo qual é senhora e rainha.

Tão aguardada senhora e rainha a ver quando chegas! Daqui a 6 anos em Portugal? Que assim seja... a aguardaremos.

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sexta-feira, maio 16, 2008

Acordo Ortográfico (2 de 3) - Ser contra é estar na moda ou é saber algo?

Ser contra

A última moda do momento é ser-se contra o Acordo. O que não entendo é porque agora é que é moda e não era moda há uns anos quando foi discutido em sede própria. Pois bem, suponhamos ainda que ninguém tinha reparado no Acordo e que só hoje é que despertamos para a sua aparente ilógica. Mas, valerá a pena a argumentação bacoca que se tem lido nos últimos dias na internet?

Os argumentos que mais tenho lido em defesa de uma certa petição e contra o Acordo seguem, a sublinhado, com os meus comentários em frente.

  • A questão etimológica: Se do latim passámos ao galaico-português e deste ao português, sem quaisquer problemas, de onde surge esta questão dentro do mesmo idioma? Se a origem da palavra se faz importante, poderemos então defender a utilização de mause ao invés de dizermos rato em Portugal? Ou veículo de duas rodas ao invés de dizermos motocicletas? Pergunto ainda, aonde estão as razões etimológicas para termos presidenta em nossos dicionários?
  • “Se são portugueses e vos resta algum orgulho nacional”: Será que isso me inclui ou por ter adquirido a nacionalidade serei menos português? Será este o argumento daqueles desprendidos que se preocupam pela unidade dos povos? Como diria alguém: sejamos patriotas, mas universais.
  • “Ninguém tem que alterar a sua forma de escrever para que nos entendamos. Nem os portugueses, nem os guineenses, nem os brasileiros!”: De facto, ninguém precisa alterar, até porque Fernão Lopes, Pêro Vaz de Caminho, ou Luís de Camões escreviam como nós e eles nunca teriam deixado mudar a sua escrita…
  • Comparações com espanhóis e hispano-americanos, britânicos e estadunidenses: No primeiro caso eles têm uma Associação de Academias de Língua Espanhola e todas as grandes decisões são tomadas em conjunto (alguém leu, por exemplo, a versão revista de D. Quijote ou de Cien años de soledad, os grandes exemplos literários de unidade idiomática?), e no segundo caso eles nunca fizeram da questão idiomática cerne de grandes discussões, mas nós de língua portuguesa sempre o fizemos, fazendo a primeira comparação um erro de lógica e da segunda uma impossibilidade (os primeiros são exemplares no trabalho e os segundos nem se preocupam com o tema).
  • Em Portugal se altera mais que no Brasil: Ainda que me pareça mais um argumento nada adulto (“se ele pode eu também posso” ou “ele não pode mais que eu” é o a género de argumentos de crianças que discutem pelos mesmos direitos que seus irmãos mais velhos e não de adultos que debatem temas sérios), confesso que em número de palavras trata-se de uma verdade (1,6% do vocabulário em Portugal e 0,45% no Brasil), mas em regras já vimos que é o contrário, que no Brasil haverá mais novas regras que em Portugal.
  • A possibilidade de haver mais que uma grafia poderá levar a confusões: Na realidade a aceitação dessas grafias para palavras como contacto e contato significa que ambas passarão a ser válidas e ninguém poderá ser criticado por usar uma e não a outra.
  • A necessidade de diversidade entre os povos de idiomas lusófonos deixará de ser respeitada: É deveras interessante ler este comentário logo a seguir ao anterior que critica a possibilidade de diversidade…
  • O idioma é mais que a sua ortografia, é a sintaxe, a semântica, a gramática no seu todo; tal mudança não irá aproximar nada: Talvez não, mas poderá ser o primeiro passo. Pergunto-me se já há tanto barulho por ser só ortográfico qual seria se o Acordo estipulasse todas estas mudanças…
Pergunto-me e só perguntas poderei fazer...

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quinta-feira, maio 15, 2008

Acordo Ortográfico (1 de 3) - origens e consequências

É habitual o ser humano temer a mudança, mas ela faz parte da sua natureza. Até mesmo Camões – tão equivocadamente citado na frase “idioma de Camões” (equívoco porque a sua escrita pouco tinha a ver com as formas atuais) – dizia: “Todo o mundo é composto de mudança”.

A necessidade de uma unidade idiomática faz-se fundamental para o progresso da humanidade no estádio de desenvolvimento no qual se encontra. Quem o sabe bem é quem tem um real contacto com outras realidades idiomáticas – e ser tradutor, fazer turismo, ter amigos noutro país não conta: ser imigrante é o desafio do século que está ante nós. Somente aqueles que não tiveram uma experiência fora de suas bolhas podem desconsiderar a necessidade de uma decisão por acordo internacional sobre o tema.

Eu sei um punhado de idiomas e sei escrever, razoavelmente bem, duas variantes do português. Na escola descontavam-me a nota porque escrevia de uma e não de outra forma. Os meus textos são revistos quer no Brasil quer em Portugal, porque não são perfeitamente daqui ou de lá. Eu dou uma olhada na nacionalidade do dono do blog, para saber como construo as frases nos meus comentários. É absurdo que eu tenha que saber duas vezes português, o meu idioma materno!

As mudanças...
...implicariam, para começar que todas as letras do nome dos imigrantes que chegam, dia após dia a Angola, Portugal ou Brasil (são apenas alguns exemplos) constassem do alfabeto. É ridículo continuarmos, numa sociedade global, a recusar que k, w e y não constem dos nossos dicionários.

Outra alteração seria nas palavras compostas. Estas deixariam de ser hifenizadas e passariam a ser aglutinadas. Quantas vezes eu e os meus coleguinhas, os meus amiguinhos que agora andam na escola e aqueles que me precederam devem ter tentado entender algo que seria quase aleatório? Pergunta-se “qual é com hífen e qual é colada?”. Agora, já será mais fácil: será benvinda (e já ninguém vai pensar que poderá ser bem-vinda) e autoestrada (no lugar de auto-estrada). Deixa-se também de ter dúvidas quanto a expressões diversas, como no caso dos dias de sábado e domingo, pois passam a ser uma locução ao invés de uma palavra: fim de semana (e não fim-de-semana).

Deixaremos ainda de ter o acento circunflexo nas terceiras pessoas do plural do presente (indicativo e conjuntivo) de verbos ficando creem, deem, leem e veem. Felizes aqueles que aprenderem agora o idioma, pois terão muito menos trabalho que nós!

Até aqui, parece que ambos os países sofrerão em igual medida. Mas com o desaparecimento das consoantes mudas como h, c e p (de acto e palavras afins), os portugueses sentem-se injustiçados. Admito que também não gosto muito de escrever omem ou úmido, mas esse caminho estava por vir (basta vermos as mensagens de telemóvel ou de comunicação por net e reparar a quantidade de h’s que desaparecem para economizar no espaço) e, também, entendo a sua lógica. Não entendo é o argumento da origem das palavras. Diz-se que a palavra provém de uma raiz tal que esta mudança incorreria a uma espécie de desrespeito. Pois bem, os apologistas dessa tese poderiam explicar-me, por favor, as causas que levam a não escrever sePtembro (que significa mês sept ou sétimo mês) ou a razão de aceitarem bem farmácia no lugar do pharmacia?

Já para aqueles que acham que os brasileiros não perdem muito (um dos maiores mitos do Acordo), lembrem-se que eles perdem o trema (quiçá um descendente do umlaut germânico que em Portugal nem se utiliza) – sequestro é a grafia portuguesa e será adotada no Brasil – e os ditongos abertos ei e oi de palavras paroxítonas também deixarão de ter acento – passando a ser assembleia e ideia, como em Portugal.

No final de contas apenas 2 mil das 110 mil palavras do vocabulário português seriam afetadas por este Acordo que permite aos novos aprendizes do idioma nem ponderarem escrever práCtico (que alguns amigos portugueses teimam em escrever mesmo sendo errado aqui: porque esse c não existe e outros existem?). E, mais permitirá, quem sabe, que se foque mais naquelas dificuldades que tenho visto até nalguns professores universitários em distinguirem fala-se de falasse, cuja confusão é quase abstrusa.

Talvez amanhã, dia que o Parlamento português estabelece o seu voto pela aplicação Acordo possa ser um dia memorável, se apenas aqueles que se acham os barões da língua não se levantarem em protestos…

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segunda-feira, maio 12, 2008

Autoreconhecimento na infância: trinta anos atrás e hoje

Li uma análise interessante de um estudo publicado em 1972 (no Developmental Psychobiology) por Beulah Amsterdam de nome Mirror image reactions before age two (em português, Reações a imagem em espelho antes dos dois anos). Neste estudo testaram-se 88 crianças que eram colocadas em frente a um espelho, com o objetivo de verificar se elas entendiam quem seria aquela do reflexo. Da conclusão da análise que só foi lograda em 16 das crianças (repare-se o número nada significativo!), concluíram-se três possibilidades:
  • As crianças comportaram-se como se a pessoa no espelho fosse outra criança: sorriem-lhe e tentam falar-lhe, como que tentando com ela interagir;
  • Escape: olham um pouco ou sorriem ocasionalmente – basicamente não se entende porque elas assim reagiam, sem demonstrar interesse como no caso anterior (reconhecem-se e não querem se ver no espelho? acham outras coisas mais interessantes do que ficar a olhar para outra criança?);
  • Auto-reconhecimento: acontecendo somente aos dois anos de idade, a criança reconhece-se, brinca consigo mesma, leva a mão ao nariz e se ri, olha para o adulto e aponta para si mesma e aponta para ele, entre outros sinais.

Bem, já pararam para pensar que as crianças de hoje, mais de trinta anos depois, nascem já com os pais filmando, ou mesmo as ecografias mensais (que exagero!!!) a ser gravada em DVDs, estas crianças já não têm que esperar 2 anos, mas apenas meros 6 meses para se reconhecerem no espelho? Alguém já notou como elas agora reagem a todos os estímulos como nenhuma criança de geração anterior? As nossas crianças nascem e agem de formas que nós, quando crianças, demorávamos muito mais. E depois, quando adolescentes, será que aprenderão mais rapidamente que nossos pais? Bem, se nós pensamos em nossos doutorados como quem pensava, há um par de décadas, em se graduar, e qualquer ponto do planeta se faz nosso potencial lar, definitivamente não poderemos pensar que a vida se mantém a mesma.

Viktor Frankl afirmava que “cada época tem sua neurose”, Ludewig que “cada época necessita uns modelos de cura que respondam a seu auto-conceito histórico” e Bahá’u’lláh que “cada época tem seu próprio problema, e cada alma sua aspiração especial”.

Então, talvez devêssemos ocupar-nos com os requisitos desta época e deixar de nos basearmos em estudos de décadas atrás. Assim, não será oportuno refazer a investigação em condições mais adequadas? Ou melhor, não será mais adequado repensar a nossa visão de vida e de desenvolvimento humano?

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quinta-feira, maio 08, 2008

Capitalismo ou Solidariedade - a opinião sobre as Empresas Farmacéuticas

A continuação do texto de ontem.

(...)

Poder-se-ia estabelecer algum tipo de imposto mundial para financiar (…). Não seria esta proposta um bom motivo para começar a caminhar pela senda de um sistema fiscal global? Se se globalizou quase tudo, desde os mercados financeiros até ao comércio, passando pelas empresas, por quê não pensar em globalizar também o financiamento dos direitos sociais? A diminuição das tensões entre o Norte y o Sul – para não falar da diminuição dos ressentimentos que causam tantas tragédias – seria sem dúvida significativa.

Um Fundo Mundial de Resgate de Patentes ou algo similar, mais além da qual seja seu mecanismo de financiamento, merece ser considerado seriamente. Se ajusta plenamente aos Objectivos do Milénio. O quê deveria impedir um consenso global em torno a uma ideia de este tipo? As forças e os movimentos progressistas de todo o mundo fariam bem em liderá-la. Os neoliberais não têm nada que opor contra ela. Provavelmente, ter-se-ia que começar por conhecer a opinião das próprias multinacionais farmacêuticas.

As empresas farmacêuticas têm necessidade de financiar uma investigação cara, muito cara. Mas não devemos carregar esses custos sobre uma população para a qual a diminuição dos preços da saúde é absolutamente vital. Permitam-nos acabar com una reflexão que um de nós escreveu para outra ocasião: "Sempre acreditei que o beneficio que as ideologias empresariais ou sociais, de direitas ou de esquerdas, conferem a seus adeptos consiste no aforro de combustível mental que pressupõem e no guarda-chuva moral que ofertam. E que os cidadãos pagam os custos destes dois benefícios".

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quarta-feira, maio 07, 2008

Capitalismo ou Solidariedade - a opinião sobre as Empresas Farmacéuticas

Li, há algum tempo, um texto extraído 4ª página do Diário El País, que vale a pena ser lido. O texto é da autoria de Pasqual Maragall e de Toni Comín e pode ser lido, por quem quiser, na sua versão íntegra e original espanhol.

Aqui vão alguns extractos que me fazem pensar:

Quem financia a investigação farmacêutica e os seus elevados custos? As multinacionais só investigam se podem recuperar o seu investimento por meio das patentes, isto é, se a investigação lhes resulta minimamente rentável. O que conduz a um dramático paradoxo. Com patentes, os países pobres não têm acesso a determinados medicamentos muito necessários, porque os preços de patente são demasiado caros para eles (é lacerante que a vida de milhares de pessoas dependa de medicamentos que existem, mas que os sistemas de saúde do Sul não podem pagar). Sem patentes, os países pobres tampouco teriam disponíveis os medicamentos necessários, porque sem possibilidade de negócio não haveria novas descobertas farmacêuticas.

Como é sabido, o preço dos genéricos é sensivelmente inferior ao de um medicamento patenteado, o qual permite aos sistemas de saúde dos países do Sul dispor de medicamentos que de outro modo dificilmente estariam a seu alcance. Dito em prata, os genéricos salvam vidas e fazem-no, precisamente, permitindo que actue a lógica da concorrência. As patentes não são mais que um monopólio temporal, sem o qual não se poderia financiar o alto custo da investigação. Quando se fabricam genéricos cessa o monopólio e, em virtude das leis do mercado, os preços caem.

A saúde é um direito. As multinacionais actuam segundo a lógica do benefício. Como equilibrar este conflito de interesses, do qual depende a vida de milhões de doentes do Sul? A investigação, certamente, é cara. Mas segundo a OMS, as multinacionais farmacêuticas são um negócio muito rentável. Segundo o Relatório 2006 da Comissão sobre Saúde Pública, Inovação e Direitos de Propriedade Intelectual da OMS, "entre 1995 e 2002 a indústria farmacêutica foi a mais rentável do Estados Unidos, em termos de benefício líquido médio depois de impostos como percentagem entrada. 2003 decaiu um pouco (...) mas manteve uma margem de rentabilidade de 14%, três vezes superior à média de todas as empresas incluídas aquel ano na lista Fortune 500".

(…)

O resto... amanhã!

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sábado, maio 03, 2008

Dia da Liberdade de Imprensa na Era da Participação...

Li, certa vez, a seguinte reflexão:

Qual é a próxima era? A Era da Participação, na qual uma rede aberta e competitiva abastece as oportunidades para todos – não apenas delieando dados ou mudando trabalho pelo mundo, mas participar, criar valor e independência. Se a Era da Informação foi passiva, a Era da Participação é ativa.

E, hoje, dia da Liberdade de Imprensa, este pensamento vem-me à mente.

Primeiro porque a liberdade de imprensa é um dos bens cruciais para que possamos ter um Quarto Poder estável que nos permita a evolução e a aprendizagem e os chamados Predadores apenas minam esse progresso humano. Aquelas pessoas e instituições que instigam contra a liberdade são muitas vezes presidentes, ministros, chefes de gabinetes, líderes religiosos ou cabeças de grupos armados, e vivem numa estranha era de participação na qual acham que ser predador da liberdade de imprensa é participar; achando que a utilização das garras da censura, da prisão, do sequestro, da tortura e, mesmo, da morte de jornalistas é participar! A lista atual contém 39 predadores (cinco saíram das listas anteriores e dez novos foram incluídos) e, se os meus conhecimentos geográficos não me atraiçoam a distribuição por continente é:

  • 24 na Ásia (6 ex-membros da URSS, 3 países árabes, 6 países do extremo oriente, 2 iranianos, 4 no oriente próximo e 3 na Ásia Central);
  • 9 na África (com líderes de vários países em situação de constante instabilidade);
  • 4 nas Américas (México, Colômbia e Cuba);
  • 2 na Europa (a espanhola ETA e um líder bielorrusso).

A imprensa é vítima de uma violência ultrajante! E, apesar de na Europa, a situação ser mais estável que o resto do mundo, segundo a investigação pelos Repórteres Sem Fronteiras, são feitas ameaças contra jornalistas, tentativas de assassinato, intimidações de famílias… A era da participação de grupos sectários:

  • Na Itália, as ameaças sob formato de cartas anónimas, pneus furados, carros riscados chegam às centenas, acontecendo, cedo ou tarde, àqueles jornalistas que escrevem sobre a máfia, a maior fonte dessas ameaças: a Camorra (Nápoles), a ’ndrangheta (Calábria), a Cosa Nostra (Sicília) e a Sacra Corona Unita (Puglia).
  • Em Espanha a Euskadi Ta Askatasuna (ETA) continua ameaçando-os. As palavras de Gorka Landaburu (Dir. do do Cambio 16), sobre o atentado a que foi vítima (2001) são um bom exemplo: “Fui gravemente ferido por um pacote explosivo. Perdi vários dos meus dedos e a visão do meu olho esquerdo”.
  • Na Irlanda do Norte, as maiores ameaças são daqueles grupos descendentes dos paramilitares protestantes, que desejam manter fortes relações com o governo britânico e alguns dissidentes da Irish Republican Army (IRA) que, não desejando o governo de poder compartilhado entre os Unionistas e os Republicanos, continuam intimidando os jornalistas.

Então, voltando ao início, qual é mesmo o nome da próxima Era? Acho que algumas pessoas não entederam: Era da Participação não é Era da Repressão!

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