Ontem, pela madrugada, fui acompanhando resultados parciais das eleições estadunidenses. E hoje, pela amanhã, acordo com os resultados que, ainda que não definitivos, anunciavam
Barack Obama como um dos vencedores.
Sim, um dos vencedores. Vencer uma batalha política é, indubitavelmente, uma vitória. Mas o verdadeiro campeão da noite foi
John McCain. Senhor de uma história sem igual, McCain, como ele próprio menciona, serviu a sua nação por meio século.
Foi herói de guerra. Prisioneiro por cinco anos e meio (1967) no Vietnam, McCain diz ter entrado na vida política para marcar uma diferença. Candidato a primárias anteriores, perdeu sempre por uma razão: era demasiado light para ser um Republicano dos tempos modernos. Não tinha o apoio do partido de George Bush ou de Richard Nixon. Era capaz de ver para além da distinção partidária: unia-se a Democratas contra decisões do seu próprio partido se necessário. Era, aliás, o Republicano guerreiro, político e diplomata como Abraham Lincoln ou Thomas Jefferson. E não um Republicano perdido!
A sua vitória nas primárias contra Romney, Duncan, ou Huckabee foram prova disso!
Até os republicanos querem a mudança! Todos querem a mudança! John McCain seria essa mudança no Partido Republicano que, outrora, lutava pelas igualdades raciais e pela integração das minorias.
E, foi com essa cabeça erguida e com essa comoção que se apresentou aos seus apoiantes após a honrosa derrota. Disse aos ouvidos de quem quis escutar que: “Hoje, fui um candidato ao posto mais alto do país que tanto amo.
E nesta noite permaneço-me como servo dela. Essa bênção é suficiente a qualquer um”.
Essa, aliás, é a mais elevada das posições. Declarou apoio ao Presidente Eleito Barack Obama, apesar das vaias de parte do público, e pediu a todos esse apoio. Mais, sabia-o, nas palavras, no olhar, na boca seca que a sua derrota era prenunciada há muito.
Pelos apartidários era visto como Republicano como Bush, pelos Republicanos era visto como demasiado centrista, pelos feministas como apoiante de uma mulher de “débil inteligência” (como a caracterizou hoje o noticiário da TVE). E, as pessoas queriam a mudança. Se tivesse ganhado as primárias há oito ou vinte e quatro anos, talvez a coisa fosse diferente!
O início do seu discurso (como aliás
todo o discurso) não foi o discurso de um perdedor, mas o discurso de um campeão. Louvou a “habilidade e perseverança” do seu oponente e vencedor, dizendo que foi capaz de “instar esperança em tantos milhões de americanos que acreditavam ter pouca influência na eleição de um presidente americano”, e defendeu a honra que foi, para si, participar de “uma eleição histórica”:
A América, hoje, está a um mundo de distância do fanatismo cruel e apavorante de outros tempos.
Quando se ganha, é fácil ter um discurso de vencedor. Mas quando se perde (com apenas 8 milhões de votos de diferença, muito menos do que muitos pensavam), faz-se um desafio
vencer a derrota, digerindo-a com rara e fina elegância.
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