quarta-feira, abril 30, 2008

Outra forma de fazer eleições... as eleições Bahá'ís

Hoje foram anunciados os resultados para a eleição do corpo máximo governante da Comunidade Bahá'í de todo o planeta. É interessante notar como a blogosfera está atenta ao tema. Bahá'ís de vários países têm feito diversos comentários sobre a forma como essas eleições são levadas a cabo e, sem dúvida, falando-se nas eleições presidenciais do Brasil para 2010 as primárias estadunidenses deste ano ou mesmo as partidárias do segundo maior partido português para daqui umas semanas, me perdoem, não posso deixar de tentar fazer uma análise.

Para começar, o processo eleitoral não possui candidaturas, plataformas, campanhas:

A diferença fundamental entre os sistemas de candidatura e o sistema bahá’í é que, no primeiro, indivíduos, ou aqueles que os nomeiam, decidem que devem ser posicionados em posições de autoridade e colocam-se em frente para ser votados. No sistema bahá'í é a massa do eleitorado que toma a decisão. Se um indivíduo ostensivamente se posiciona sob o olho público com o evidente propósito de levar as pessoas a votarem nele, os membros do eleitorado consideram isso presunção e sentem-se afrontados por isso; aprendem a distinguir entre alguém que é bem conhecido como resultado desintencional de serviço público ativo e alguém que faz uma exibição de si mesmo meramente para atrair votos (a Casa Universal de Justiça, a 16 de Novembro de 1988, conforme citado).

Conforme a notícia oficial, numa cerimónia que combina “dignidade espiritual com diversidade global”, bahá’ís de 153 países elegeram os nove membros que constituem a Casa Universal de Justiça. Os delegados desta X Convenção Internacional (que decorre a cada 5 anos, desde 1963, ano de estabelecimento da Casa) são membros das Assembleias Espirituais Nacionais de todo o mundo que, por sua vez, foram eleitos por delegados escolhidos nas raízes locais de seus países o que, pode-se dizer, faz com que todos os bahá’ís adultos do mundo participem virtualmente desta eleição.

As eleições que começaram ontem refletem um processo único que enfatiza qualificações e não promessas, inclusão e não dinheiro e outras barreiras. Com um processo que exclui qualquer intento de partidarização, todas as formas de campanha são evitadas e nenhuma nomeação é feita, o que, os bahá’ís acreditam, acaba por proteger contra a divisão e a facciosidade. Como diria uma das delegadas pelo Canadá: “Como um resultado [disso], não há oportunidade para indivíduos encorajarem outros a votarem neles, quer magnificando suas próprias qualidades ou descobrindo falhas noutros candidatos. Subjacente a todo este processo está a confiança na oração e no esforço dos delegados em se manter informados das atividades da Comunidade Bahá’í mundo afora”.

O processo acaba por ser similar em todas as eleições bahá’ís, pois os seus Textos Sagrados enfatizam que se deve votar em pessoas de devoção abnegada, mente bem-treinada, reconhecida habilidade e experiência madura.

Imagine o que seria ao invés de eleger uma só pessoa para assumir a liderança, eleger um corpo de pessoas com estas virtudes para servir o bem comum? Naturalmente, algum leitor pode pensar que será impossível manejar uma eleição sem partidos, campanhas ou nomeações, mas o que acontece é que o sistema político-partidário acaba, assim, mais que unir, separar aos povos. O que seria se não tivéssemos a dicotomia entre um governo e uma oposição [que por definição “se opõe”], mas, em seu lugar, um conjunto de pessoas unidas a trabalhar pelo bem comum?

[A imagem mostra uma das delegadas votando e as 95 rosas enviadas pelos bahá’ís do Irã, aonde os seus cerca de 300 mil membros enfrentam perseguição e a sua administração foi banida pelo estado]

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terça-feira, abril 29, 2008

A Névoa do Fanatismo

The Mist foi um filme que me perturbou! Do mesmo autor e criador de 1408, Desperation, Dreamcatcher, The Green Mile, Storm of the Century, The Langoliers, The Shawshank Redemption e de The Shining e Carrie que me deixaram sempre aturdido com finais surpreendentes, aqui, não foi o final que me assustou! Incomodou-me e entristeceu-me, sem dúvidas, aquele final estranho e totalmente previsível, mas não me aturdiu!

O que me assustava no filme não eram os monstros estranhos e bizarros que provinham de alguma estranha origem, nem os seus tamanhos, grunhidos e zumbidos, a sua capacidade de matar e despedaçar pessoas! Nada disso me assustou tanto como a torpeza do ser humano, tão bem delineada e ilustrada neste filme.

Para quem não viu o filme, há uma personagem interpretada brilhantemente pela atriz Marcia Gay Harden que me assustou mais que qualquer Freddy, Jason, ou Chucky deste mundo. Uma mulher que ilustrava a religião no mais fanático e triste que ela poderia ser. De algum culto cristão que acreditava que o Senhor Deus teria alguma espécie de ódio e rancor contra a Humanidade, regateando com Ele o seu papel pessoal naquilo que seria a Sua obra.

King sempre se mostrou atento à questão Deus-Humanidade-Demónio, mas nunca mostrou tão bem como o Diabo e a Divindade podem residir nessa Humanidade. Essa mulher, vil e desprezível que mandava em nome desse deus, que matava em nome do seu deus, que estava certa e nunca se equivocava em nome desse mesmo deus tinha um não-sei-que de odiável, algo de detestável ao ponto que as pessoas começavam a crer nela: ela mesma era a voz desse deus feito à imagem e semelhança das idiotices humanas.

Quem me conhece sabe que sou religioso e não abdico dessa minha dimensão espiritual! Mas quem me conhece também sabe que a minha Fé é racional: não posso crer que Deus seja um ser demoníaco ao ponto de desejar a destruição da humanidade e que tenha como Seus porta-vozes pessoas cujo único ímpeto é manter-se numa posição de prepotência.

Creio que com pessoas como aquela (e digo, nunca desprezei tanto um ser humano, como os criadores do filme conseguiram fazer-me desprezar nesta película) são as que nos urgem a repensar a religião, fazendo o propósito de cada um de nós tentar determinar conclusivamente se a religião é a própria base e princípio fundamental da cultura e civilização, ou se, como Voltaire e seus semelhantes supõem, ela frustra todo o progresso, bem-estar e paz sociais.

Sinceramente, não consigo imaginar a religião senão como meio do progresso e desenvolvimento humano. Afinal, dizem as Escrituras da minha religião que “O propósito fundamental que anima a Fé e a Religião de Deus é o de salvaguardar os interesses do gênero humano, promover sua união, e nutrir o espírito de amor e solidariedade entre os homens”. E uma pessoa capaz de odiar e desprezar a todos, criticar até ao ponto de lhes desejar a morte, de insultar e aspirar a sua redenção e de mais ninguém não me parece que consiga entender a citação acima! Ou será que consegue?

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segunda-feira, abril 28, 2008

Pronunciamento no Congresso Brasileiro

O deputado federal brasileiro, Fernando Ferro, no passado dia 8 de Abril faz o seguinte pronunciamento perante a Câmara dos Deputados que gostaria de partilhar:

«Sr. Presidente, ao mesmo tempo em que eu quero expressar o nosso respeito e consideração ao Governo e ao povo do Irã, que têm lutado pela sua autodeterminação, para garantir o seu espaço nacional, quero dizer que não posso concordar com os procedimentos no que tange à intolerância religiosa e perseguição ao direito de credo.

Recebi manifestações da Comunidade Bahá'í em que denunciam perseguições contra crianças nas escolas e intolerância religiosa e repressão política contra aqueles que expressam a Fé Bahá'í, o que também se estende a outras pessoas que têm manifestações religiosas que não o islamismo.

Quero crer que, para uma sociedade tolerante, em busca da paz no mundo, não podemos concordar com esse tipo de postura.
Vou encaminhar à Embaixada do Irã essas preocupações e essas denúncias e pedir esclarecimentos, em nome da paz.»

Eu gostaria de ver este grau de consciência dos líderes políticos das nações mundiais no que se refira a temas do próprio país e a todos os temas concernentes aos direitos humanos mundo afora. Afinal, uma sociedade humana mundial não poderá manter-se em silêncio enquanto o seu mais precioso bem -- as crianças -- são vítimas das mais terríveis perseguições, seja por que razões forem!

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sexta-feira, abril 25, 2008

As mulheres querem tudo

Continuando o tema de ontem, no mês passado, David Buss (investigador de psicologia) da Universidade do Texas em Austin (EUA), publicou no Evolutionary PsychologyAttractive Women Want it All: Good Genes, Economic Investment, Parenting Proclivities and Emotional Commitment” (Mulheres atraentes querem tudo: bons genes, investimento económico, inclinação parental e compromisso emocional).

O título é fácil de entender: uma mulher que seja considerada (por si mesmo, pelos seus pares ou familiares, pela sociedade até) especial vai querer algo especial, aumentando os seus níveis de exigência para poder escolher o melhor! Então, quanto mais uma mulher for considerada atraente, mais ela tenderá a demandar os seguintes traços:
  • Bons genes (o que se reflete em traços físicos desejáveis);
  • Recursos;
  • A vontade de ter filhos e boas capacidades parentais;
  • Lealdade e devoção.
A maioria delas tenta, obviamente, assegurar a melhor combinação dessas qualidades num homem, mas os investigadores concluíram que uma pequena porção das mulheres que não encontrou o parceiro ideal pode trocar umas características por outras, regateando a personalidade do parceiro?


Agora, depois desta lista de investigações sérias (?), só me falta descobrir como é que um homem pode demonstrar a uma mulher que ele tem essas características…
Será que teremos, rapazes, que andar e rebolar com um ar snob, balançando os ombros? Bem, verdade seja dita, ao que parece, nós não temos é ideia de nada!

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quinta-feira, abril 24, 2008

As leis da sedução

Como diria um amigo meu, não seria mais fácil simplesmente dizer o que se sente à outra pessoa e avançar conforme a resposta dada? Ao que parece a resposta é não, e os meus colegas psicólogos não param de estudar e chegar às mais diversas conclusões sobre este maravilhoso e estranho tema que só nos dá dores de cabeça! E, como a blogosfera parece conspirar para que eu leia matérias e mais matérias sobre este admirável e incompreensível tema da sedução, aqui vai a oferta do que pode servir para novas aprendizagens, desaprendizados e mesmo leituras e conclusões irrelevantes.

Análise de interesse sexual
Num estudo publicado em Abril na revista Psychological Science, Colleen Farris pediu a 280 universitários de ambos os géneros sexuais que categorizassem fotos de mulheres em 4 categorias: amigável, com interesse sexual, triste, rejeitando. Das quatro categorias, ambos classificaram em pior grau o interesse sexual, com os homens cometendo o erro de categorizar imagens amigáveis como sendo sexualizadas em 12% e as mulheres em 8,7%. Comparativamente, elas obtiveram melhores resultados que eles, o que permite concluir uma coisa: os homens são piores que as mulheres em ler o comportamento não-verbal delas. Rapazes, arranjem sempre uma amiga para vos fazer de dicionário, porque elas se entendem melhor (ou menos mal!).

Tamanha conta (ou talvez não!)
Conta, pelo menos para os Xiphophorus helleri, peixes das Américas central e do norte, cuja barbatana do macho é a única que cresce. É interessante notar a esperteza destes animais. Craig Walling e colegas das das Universidades de Exeter e Glasgow observaram que a fêmea mais rapidamente amadurece sexualmente perante um macho de grande barbatana, sendo “a primeira evidência de que as espécies adaptam a sua evolução a nível da maturação sexual em resposta a indícios visuais”, por isso a aparência é importante rapazes! Por outro lado, observou-se também que estes peixes retardam o seu desenvolvimento sexual quando existe outro macho com maior barbatana que eles no aquário, o que me parece uma semelhança com o acanho que muitos rapazes têm, evitando contacto com a outra pessoa quando sentem que existem outros rapazes potencialmente mais interessantes para elas. Trata-se, obviamente, de um erro claro: nós não temos barbatanas, mas um leque complexo de traços que faz mais complexa a escolha (ou não?).

Poder, ambição, dinheiro e aspecto físico
Pessoalmente não sou muito fã do estudo publicado em Fevereiro no Journal of Personality and Social Psychology, mas, para justiça do tema, publico aqui algumas notas. Num processo speed-dating (aonde a pessoa fala por alguns minutos com uma pessoa do sexo oposto, levanta-se e fala com outra, depois com outra, tudo cronometrados), Paul Eastwick (estudante) e Eli Finkel (professor assistente) do curso de psicologia da Weinberg School of Arts and Sciences (Northwestern, Louisiana) notaram que “bom visual era o estímulo primário de atração tanto para homens como para mulheres, e uma pessoa com perspectivas de bons lucros ou ambição” são os que, tendencialmente, mais gostam, sem qualquer diferenciação entre os dois sexos.
Não gosto do estudo em si, não das conclusões. As conclusões são lógicas: gostamos mais do que é mais promissor, dos que poderão dar melhor sustento, dos que são mais agradáveis de se olhar e de se falar. Mas a futilidade do estudo é que me assusta. As variáveis aspecto e ambição são variáveis muito fugazes! Se a pessoa troca de roupa ou conta uma história diferente passa a ser menos ‘querida’? E depois, a metodologia de speed-dating não é muito fiável: quantos minutos de conversa chegam para medir a atractividade? Ou se fosse o caso de só se querer analisar a primeira impressão para que a conversa? Não sei, há algo aqui neste estudo que não me encaixa. Talvez seja porque não sou suficientemente ambicioso (rs).

Andar e rebolar pode marcar a diferença
Cinco estudos e 700 participantes observando e avaliando o grau de atração percebida em representações animadas de pessoas andando permitiram concluir que as mulheres eram tidas como mais atraentes (50% a mais) quando andavam balançando a anca e nos homens (mais do dobro) quando a sua forma de andar era arrogante. O artigo ainda fala das medidas ideias que a cultura dita ocidental prefere nas mulheres, mas, cá para mim, a questão não está no aspecto físico, mas da forma como a pessoa dá a mostrar.

Finalmente! A personalidade também conta!!!
Não há muito tempo, em Novembro do ano passado, um artigo publicado na revista científica Personal Relationships sugere que aqueles que exibam traços positivos (honestidade, prestar ajuda, etc.) são percebidos como tendo melhor aspecto, enquanto que aqueles que exibiam traços negativos (injustiça ou rudeza, por exemplo) parecem ser menos atraentes. O processo foi simples e (parece-me) inteligente: as pessoas viam as fotos, respondiam ao grau de desejabilidade de ter a pessoa da foto como amigo ou namorado, depois recebiam informações sobre a personalidade da pessoa, e voltavam a dar uma opinião.
O que o estudo mostra é que a componente cognitiva possui clara influência no processo: não são só os olhos e a primeira impressão (seja no andar, na conversa de três minutos ou no tamanho), mas as informações que se vai recebendo sobre o sujeito! Por isso é que vejo pessoas que se conhecem há anos se apaixonarem, assim, de repente!
A personalidade que for tida como positiva conduz a um maior desejo de se ter a pessoa como amiga, o que leva a maior desejo de tê-la como potencial par romântico, o que, por fim, faz com que a pessoa seja vista como mais atraente do ponto de vista físico.
“Esta investigação providencia uma alternativa mais positiva, ao lembrar as pessoas que a personalidade vai um longo caminho na determinação da tua atractividade; pode mesmo mudar a impressão da pessoa sobre quão bem-parecido és” afirma Gary W. Lewandowski, Jr (autor do estudo).

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segunda-feira, abril 21, 2008

Condições de trabalho: sonho dos empregados e pesadelo dos empregadores?

Sempre que vejo um horário de trabalho e vejo que tenho que sair entre as 16 e as 18 horas, penso no desperdício de tempo! No cansado que chegarei em casa, no blog que não poderei escrever, nos livros que não irei ler, nos familiares e amigos com quem não irei ter uma conversa, no cansado que irei estar.

Aí, quando vejo que, ainda por cima, terei, teria ou tive (conforme os casos) uma, duas ou três horas de almoço, acho ainda mais ridículo e incabível! Já estudante de 6º, 8º, 11º anos pensava assim: custa muito deixarem-me ter um horário de almoço mais curto e para poder trabalhar antes e sair mais cedo? Sentia-me um solitário abandonado numa viagem insana aos olhos dos demais. Mais valia nem discutir, descobri-o há um ano (finalmente!). Mas, então agora que me acalmo, não é que a Sodexo lança um estudo sobre a Qualidade de Vida e Conciliação com o Trabalho, na qual diz que eu não estou só?


Segundo o estudo, são 80% dos trabalhadores que chegam em casa entre as 16 e as 18 horas, 77% das mulheres em cargos de direção e 76% dos administradores os que concordam comigo. Afinal, comemos em dez minutos e lavamos os dentes, e que mais? Bebemos um café ou um chá? E…? Para quê a hora, hora e meia, duas horas que nunca mais acabam? Que não dão tempo de ir para casa, mas que nos dão tempo de sobra o suficiente para ficarmos mais inertes?


Claro que facilitaria ter serviço de alimentação no local de trabalho (a partir de umas 10 pessoas, acredito, já vale a pena mesmo contratar uma cozinheira)! 66% do pessoal intermédio, 64% dos homens nas direções e com filhos e 63% dos diretores sem filhos concordam comigo.

Também, segundo o estudo, 57% ainda acham que o menu deveria ser adaptado (suponho que seja baixo colesterol, menos açúcar, sem algum alergénico), 64% defende creche no local de trabalho e, ao que parece, o desejo de um local de repouso no trabalho é consensual: tanto os diretores intermédios como os administrativos parecem concordam com essa medida!


14% defende a criação de um instalações para exercício físico (42% acha que no trabalho não se exercita o físico e é contra!), 68% das mulheres defende um local (no trabalho) no qual alguém lhes faça a gestão das declarações fiscais (o que também não é injusto, se passamos a vida no trabalho, porque não o trabalho passar à nossa vida?) e 100% dos autores deste texto que está a ser lido agora (ou seja eu e eu mesmo) achamos que deveria também haver um local de meditação em todos os locais de trabalho, como o Conversas com Deus, que alguns grupos bancários brasileiros fazem, ou as Zonas de Tranquilidade como algumas empresas anglo-saxónicas defendem, aonde se pode meditar sozinho e em grupo, lembrando sempre que o ser humano é o corpo que come, a mente que trabalha e o espírito que permite tudo isso, ou não?

["...e sobretudo, agradáveis condições de trabalho"]

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sexta-feira, abril 18, 2008

Diversidade nas Organizações: realidade ou utopia

Unidade na Diversidade… Quantas vezes os leitores deste espaço leram aqui esta expressão? Pois bem, em minhas leituras habituais não paro de reparar como cada vez mais autores diversos utilizam este termo. Fui a já alguns congressos que, tratando da política à psicologia, iam utilizando estas palavras quase como slogan.

E, na semana passada, deparei-me com Eduardo Shinyashiki, aparentemente um especialista brasileiro nas áreas da liderança e no desenvolvimento pessoal, falando, numa entrevista, sobre a importância da diversidade nas organizações. Eu não poderia concordar mais com o que ele afirma:

Não ficar atento às diversidades custa caro para as empresas. Por exemplo, na dificuldade de reter talentos, gerar inovações, reduzir conflitos internos, enfim na dificuldade de evoluir. Se em um time todos jogassem na mesma posição, não haveria jogo. Cada jogador é interligado e interdependente do outro. Para criar o resultado do jogo, se estabelece um equilíbrio, uma cooperação e uma harmonia. A visão é complementar, não excludente. Não é nem simples nem fácil, mas é o caminho: o individuo como base para vencer desafios.

No ano passado tive o prazer de poder acompanhar, durante uma semana, a figura ímpar de Gordon Naylor, aquando da sua visita em Portugal. Em suas palestras e apresentações, ele explicou que havia três tipos de pessoas e, portanto, de relações humanas: aqueles que buscam exercer sua influência sobre alguém, os que querem estar com pessoas iguais a si mesmas e aqueles que procuram a diversidade. A minha experiência pessoal diz-me que este é o maior desafio: procurar pessoas que são diferentes de mim, estabelecer amizades com aqueles que não pensam como eu, não agem como eu, não sentem como eu. É um desafio, e nem sempre funciona: todos sabemos isso!

Mas, também sei que funciona. Eu, pessoa religiosa e sonhadora, tive a oportunidade de poder estar num núcleo de estudantes, nos meus saudosos tempos universitários, no qual tive como vice alguém que se afirma membro de uma esquerda anti-teísta e demasiado até pragmático para o meu gosto. Muitos achavam que não daria certo. Deu certo e hoje ainda somos grandes amigos. O que fez com que esta experiência funcionasse e outras não?

A resposta está nas palavras, não muito originais, de Shinyashiki:

A diversidade pode gerar conflitos quando não é entendida, utilizada positivamente como recurso e dirigida como numa orquestra em que várias pessoas tocam instrumentos diferentes para criar uma harmonia maravilhosa. O ato criativo no começo pode parecer um caos, mas com um claro objetivo comum, treino, força de vontade, persistência e um maestro que lidera, combina e integra as diferentes qualidades para atingir o objetivo comum, se pode chegar a uma obra de arte, quer dizer, empresas bem-sucedidas, objetivos realizados, satisfação dos colaboradores.


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quarta-feira, abril 16, 2008

A altura do ciúme

Há uns dias li um pequeno texto que explicava a relação entre a altura e os ciúmes. 549 pessoas, de ambos os géneros sexuais, foram os inquiridos em Holanda e Espanha e os resultados publicados no Evolution and Human Behavior.

O estudo é, no mínimo, interessante.
Os primeiros resultados são:
  • Os homens aparentavam sentir-se ameaçados por outros homens atraentes (atraentes para quem?), ricos e fortes. Claramente alguma dificuldade quando notam que “o outro” pode ser melhor…
  • As mulheres não iam muito com a cara de outras mulheres bonitas e elegantes (e de inteligentes não?).

Agora, o interessante é notar que os resultados anteriores de ciúme diminuíam quanto mais altos eles fossem e quanto mais próximo da média estatutária elas estivessem. Claro que os investigadores não puderam deixar de analisar de um ponto de vista evolutivo: homens mais altos são os preferidos das mulheres e mulheres de altura média são as que possuem melhor saúde e fertilidade. Não sei bem em que estudos se baseiam para tais conclusões… Sei apenas que, por observação, os homens mais altos são mais auto-confiantes, tendendo a gostar mais da sua imagem pessoal, nalguma forma de complexo de superioridade talvez, não sei…

Mas se assim for, mais facilmente entenderemos porque os mais altos são menos ciumentos. Agora, quanto aos mais baixinhos, não se sintam subestimados! Lembrem-se: vocês estão em vantagem – o coração e a mente estão mais próximos e elas gostam de pessoas que sabem pensar e sentir, ao mesmo tempo.

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segunda-feira, abril 14, 2008

Da leitura, da Trindade, e da Religiosidade

Há dias li um livro do falecido antigo e ex-Cónego da Catedral de Dt. Patrick, Dublin (Irlanda) e também Arcediago de Clonfert, George Townshend. Uma figura cuja obra merece ser estudada por todos aqueles que se gostariam de afirmar como doutos nas ciências de análise religiosa.

O livro que li possuía toda uma análise coerente (mesmo que se discorde dele não se pode deixar de confirmar a coerência nos argumentos expostos) de toda uma série de questões religiosas e dogmáticas, sociológicas e sociais, históricas e culturais, desde o tempo de Jesus Cristo; começando, assim, o seu livro com o Capítulo Chamado de Deus aos Cristãos e terminando com O Reino na Terra, logo antes do epílogo.

Sobre o Cristianismo, aquele dos tempos de inicias, ele comenta:

Uma nova qualidade de amor caracteriza agora o Reino, amor este que unia os crentes não só com Deus mas também uns com os outros e até se estendeu aos inimigos e “àqueles que vos odeiam”. (…) O supremo ideal deste amor, segundo mostra o Evangelho de S. João, foi a relação entre Cristo e o Pai e, embora revelada na linguagem simples, em palavras sem adorno, salienta-se como a mais alta expressão do amor divino nas Sagradas Escrituras.

Uma análise minuciosa é feita sobre esta relação entre Jesus, o Filho do Homem, e o Pai, Deus Todo-Misericordioso; e, aqui, uma das coisas que mais me chamou a atenção, na obra, foi essa capacidade de me explicar, finalmente, a questão da Santíssima Trindade. O autor explica sobre a “crença geral de que Jesus Cristo foi encarnação única de Deus” e sobre o facto de “nas próprias palavras de Cristo registradas no Evangelho, entretanto, nada se encontra em apoio de tal crença”, conforme os argumentos que aqui tento sintetizar.

  • Jesus era enfático na distinção entre Ele Próprio e o Pai, dizendo:
    • do Pai que me enviou” (João, 14:24);
    • Vou para o Pai” (João, 14:28);
    • porque o Pai é Maior do que eu” (Idem);
    • vou ao Pai” (João, 16:16);
    • eu rogarei ao Pai” (João, 14:16);
    • nada faço por mim mesmo; mas falo como o Pai me ensinou” (João, 8:28).
  • Também afirmou que ao Pai pertencia o conhecimento desconhecido por Ele, o Filho:
    • A respeito, porém, deste dia ou desta hora, ninguém sabe quando há de ser, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas só o Pai” (Marcos, 13:32).
  • Ainda, Ele falava de Si mesmo como profeta (Mateus, 13:57).
Para Townshend, faz-se fundamental entender o conceito de Espírito da Verdade e entender que há duas realidades distintas, pois o Próprio Cristo fala de um “ele” e de um “eu”:
  • Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade; (…) Ele me glorificará, porque há-de receber do que é meu” (João, 16:13-14).

O autor continua explicando que, como consequência de más interpretações das Escrituras Sagradas do passado, “os adeptos de todas as religiões do mundo têm inventado para si crenças semelhantes, afirmando ser único e final seu próprio Profeta. Em consequência disto, nenhuma religião reconheceu aquele Profeta de uma religião posterior. Os hindus não acreditam em Buda, nem os budistas, e nem ainda os zoroastrianos, em Cristo. E o resultado dessa crença delusória é que as religiões do mundo têm concorrido para a divisão da humanidade em vez de sua unificação”.

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quinta-feira, abril 10, 2008

Porque tenho engordado…

Quem ler este título deve achar que ganhei uns milhentos quilos nos últimos tempos, mas nada disso: foram somente dois em três meses no paraíso culinário que é o Brasil. Mas, nem é por ter comido muito, senão por ter dormido muito pouco!

Karine Spiegel do Instituto Francês para a Nutrição, conforme publicado num blog amigo e originariamente no Instituto Nacional de Prevenção e Educação para a Saúde, demonstrou que a diminuição do sono leva a um decréscimo da segregação da hormona leptina – responsável pelo apetite – ao mesmo tempo que aumenta a libertação da grelina – indutora de sensação de fome. É por isso que tenho tido fome e desejado comer mais e mais alimentos gordurosos e doces – assim provavelmente os 45% da população da minha faixa etária (25-45 anos).

Por sua vez, outros autores, como Patrick Lévy (psicólogo), asseguram que a obesidade se relaciona de forma directa com a síndroma de apneia do sono, causado pela acumulação de gordura no pescoço o que, por sua vez, impede a passagem de ar da faringe para os pulmões, levando, por fim, a possibilidade de se desenvolver doenças cardiovasculares.

Tudo isso acaba por justificar o aspecto quase anoréctico da Bela aqui ao lado. Segundo o estudo, se ela sofresse de insónia seria bem mais redondinha...

Então a coisa se faz simples: dormindo pouco, engorda-se.
E e
ngordando, pode-se desenvolver apneia e dormir mal.

O ciclo está lançado! Se está dormindo pouco ou se tem engordado, aonde pensa que deve começar?

Nota: Fui "furado" pelo Lino Resende com um artigo sobre o tema. Confira.

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quarta-feira, abril 09, 2008

O milagre de não fazer milagres

Tendo estado, há algum tempo atrás, no Brasil, não poderia ter deixado de notar o leque amplo de religiosidade entre o seu povo. Mas é interessante notar como a religião e o dogma e as tradições se confundem no país da mescla. Porque somos cristãos, judeus, muçulmanos ou bahá'ís? Por tradição familiar ou por decisão pessoal? Pessoalmente, acredito que a livre e independente busca da verdade (ou Verdade?) deveria ser o motor da decisão religiosa (ou arreligiosa até!). Longe daquele clero e dos pastores que acham que são detentores de um conhecimento mais acurado dos textos sagrados que exigem que eu pense como eles, prefiro ser eu a pesquisar e entender a religiosidade e, depois decidir, se concordo com este ou aquele movimento.

Frankl, se estivesse vivendo no Brasil, voltaria a escrever o seu A Presença Ignorada de Deus e, quiçá, faria sequelas da obra. Ele afirma:

De facto, a evidência clínica sugere que a atrofia do sentido religioso na pessoa humana resulta numa distorção de seus conceitos religiosos. Ou, falando em termos menos clínicos: uma vez reprimido o anjo dentro de nós, ele vira um demónio. Existe um paralelo inclusive em nível sociocultural, pois repetidas vezes observamos e somos testemunhas de como a religião reprimida acaba degenerando em superstição.

Ora, mesmo os alegados milagres têm muito que se digam, mas não entrarei por aí. O fenómeno psíquico que funciona, o fenómeno de marketing que engana, as informações erradas que se podem passar, nada disso, me interessa aqui. O que me interessa é pensar no seguinte:
  • Será que Deus precisa de nós e por isso utiliza milagres para nos chamar a atenção? Ou, ao contrário, nós é que precisamos dEle?
  • Será que temos o direito de Lhe exigir milagres, sendo uma obrigação Sua provar-Se perante Suas criaturas, e não estas a Deus?
  • Será a Causa de Deus uma exibição teatral, apresentada de hora em hora, da qual se possa esperar todos os dias algo novo? É que, penso, se assim fosse, tornar-se-ia mero brinquedo de crianças...
  • Além do mais, se os milagres se fazem prova de Deus, o que diferencia o religioso milagreiro e milagroso de um mágico ou mago?
Não ouso responder a nenhuma dessas questões!

Atenção. de forma alguma falo da impossibilidade dos milagres, apenas menciono a sua i-necessidade.

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segunda-feira, abril 07, 2008

Dia da Saúde (ou da falta dela...!!!)

Para quem esperava que no Dia Internacional da Saúde eu fizesse alguma análise do significado do conceito de saúde, da história, ou das várias perspectivas sociais, culturais, religiosas e políticas, até, sobre o tema, não estava muito longe da verdade! Pensei mesmo em fazê-lo mas, ao ser deparado, através de Carlos Serra, com uma notícia, achei que nada mais poderia ser dito hoje…

Nada a comentar, quem quiser, sinta-se benvindo!
Nada a comentar sobre a saúde mental da Humanidade, pois não creio que precise…

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sábado, abril 05, 2008

Nature, online desde 1869!

Desde 4 de Novembro de 1869 que o semanário Nature tem-nos oferecido alguns dos grandes títulos da ciência moderna. Agora estes artigos estão, depois de um processo de cinco anos de digitalização, disponíveis na rede para os seus ciber-leitores.

Alguns dos 180 mil artigos distribuídos nos 4 mil números da revista que marcam este novo período da revista (anteriormente podia-se aceder aos artigos desde o ano 1950) são:

  • A primeira observação dos raios X;
  • A descoberta do electrão/eletron;
  • A primeira evidência fóssil da origem dos humanos em África;
  • O artigo que deu o nome Nessiteras rhombopteryx ao monstro do Lago Ness;
  • A prova científica das habilidades telepáticas de Uri Geller.

É uma revista de popularidade constante (apesar das dificuldades que passou nos primeiros 30 anos), graças ao primeiro editor, Alexander Macmillan, e o primeiro director, Norman Lockyer, e o segundo, Richard Gregory. Este dando um toque social, enquanto o outro deu atenção a temas polémicos el hijo de un famoso poeta callejero de Bristol, tomó las riendas y decidió dar a la re.

Hoje, sob a alçada do redator-chefe, Philip Cample, a revista está disponível, desde o seu primórdio, para todos aqueles que desejem (e paguem!!!). Boa e divertida leitura!

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terça-feira, abril 01, 2008

Da Juventude, dos Oscars e do Mundo

Depois de ter visto os Oscars, há já mais de um mês, com prémios que concordei, que gostei, que desgostei, mas que em nada alteraram a minha vida, houve um pequeno detalhe dos meus pensamentos que gostaria de compartilhar.

Quantos de nós já tinham ouvido falar em Diablo Cody?

Pois bem, não tenho nada a declarar sobre o recorrente bom gosto e mau gosto de alguns atores e atrizes, nem sobre a bela homenagem final a Heather Ledger, que morreu por mistura de medicamentos, mas quero falar de Diablo Cody, que não, não é o nome de nenhum filme de terror classe B.

É uma menina jovem de 29 anos que ganhou o meu Oscar favorito, o de melhor guião/script original. Foi ainda nomeada para a BAFTA e uma série de outros prémios pelo mesmo filme: Juno.

Tampouco vem ao caso aqui falar do filme! O filme é bom! Não tenho dúvidas. Fala acerca das dificuldades de uma adolescência absurda e irresponsável, quando tem que enfrentar uma gravidez que surge por mera idiotice de um casal de "namorados".

O que eu gostaria mesmo de salientar é que a escritora poderá fazer parte de um novo panorama mundial. No cinema, nas várias formas de cultura, de liderança e nas mais variadas ciências, a juventude começa a mostrar que move o mundo.

É, sem sombra de dúvidas, o poder da juventude contribuir de forma significativa na moldagem de uma nova sociedade. As suas palavras, atitudes, ausência de preconceitos, nobreza de pensamento, que rejeitam a mediocridade poderão permitir que a atmosfera seja recriada e elevada.

A galardoada Cody deixou de lado uma vida que não poderia ser exemplo para ninguém para se converter num possível exemplo para muitos. Dominando tecnologias da comunicação, ela poderá, como muitos outros jovens, ajudar aos demais na transmissão daqueles atributos humanos que marcaram o passado e marcam o nosso presente. As transformações do futuro, em grande medida, dependem da preparação efetiva e eficaz nas novas gerações.

Assim, espero ver mais e mais jovens, talentosos, competentes e dignos de elogios e apreciações, como ela o é hoje!
É com a juventude que se pode esperar novos resultados. Sempre dignos de serem chamados para este ou aquele posto, para exercer esta ou aquela função, pois a juventude é dotada de uma imaginação ímpar e de uma capacidade invulgar de a converter em ação: a juventude pode mover o mundo!

Nunca vi um guião tão cuidadoso e perfeito e, não só me parece que ela merecia o prémio, como acredito, agora que vi o filme, que qualquer pessoa poderá marcar a diferença, se apenas o desejar!

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